“Os nossos políticos hoje estão a gerir conflitos de uma sociedade de indivíduos, perdeu-se o sentido do «nós». São palavras de José Policarpo durante a sessão comemorativa dos seus 75 anos, realizada na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa
“Os nossos políticos hoje estão a gerir conflitos de uma sociedade de indivíduos, perdeu-se o sentido do «nós». São palavras de José Policarpo durante a sessão comemorativa dos seus 75 anos, realizada na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboaainda mais recentemente no debate da Rádio Renascença “Portugal – Que Futuro” que ocorreu no dia 20 de abril, o Cardeal Patriarca foi ainda mais longe ao demonstrar preocupação por uma “alergia que está aí a nascer dos portugueses em relação aos partidos. Isto é um apelo muito grande aos partidos para se valorizarem culturalmente” acrescentou o Cardeal. Mas, José Policarpo também apontou caminhos, defendendo como essencial para a dinamização da economia portuguesa a manutenção e criação de postos de trabalho, fazendo um apelo às empresas nesse sentido. Neste momento, distribuir riqueza é garantir postos de trabalho, afirmou. “Não é a dar dinheiro”, que se resolvem os problemas financeiros das famílias, mas sim “a garantir postos de trabalho”.
Em relação ao papel da Igreja nesta matéria, José Policarpo entende que a “vasta doutrina e pensamento adquirido” sobre “as grandes questões da sociedade devem contribuir para um diálogo com os fiéis e os cidadãos” de forma a ajudar a “identificar a realidade” do país. Foi na continuidade dessa linha de pensamento que afirmou “neste momento, não sei o que se passa”, disse a propósito da falta de informação concreta. “Não há futuro sem discernimento claro”, acrescentou. Fez também um reparo em relação à comunicação social, advertindo que “neste momento é urgente que os portugueses não ouçam só o discurso político, que a própria comunicação tenha isso em conta e não gaste 90 por cento do seu tempo a veicular discurso político. Há outras pessoas da sociedade que têm coisas para dizer”.
Quanto à situação em que o país está mergulhado, José Policarpo não responsabiliza inteiramente os portugueses, que “foram martelados com a ideia de que ‘iam chegar ao nível da Europa'”. O problema, na sua opinião, deu-se quando “meteram à cara das famílias o crédito fácil” e “os “modelos de vida propostos pela União Europeia foram transformados em objectivos”. No concernente às eleições, o cardeal põe o dedo na ferida e interroga políticos e partidos, referindo: “alguém me dizia e eu partilho, nas próximas eleições ao ir votar, vou votar no partido que acredito que pode liderar a solução de Portugal. E eu não acredito, não vejo nenhum em que eu possa pôr essa confiança. Que faço, não voto?” É uma pergunta que merece reflexão e uma resposta adequada daqueles que exercem a política em Portugal, é o tempo de mudança que todos nós desejamos seja uma realidade.