Trinta dos meus 75 anos foram vividos em Moçambique. Dois períodos quase iguais estão separados por 20 anos passados em Portugal e Itália. São, ao todo, 50 anos de vida ao serviço da missão, em muitas tarefas
Trinta dos meus 75 anos foram vividos em Moçambique. Dois períodos quase iguais estão separados por 20 anos passados em Portugal e Itália. São, ao todo, 50 anos de vida ao serviço da missão, em muitas tarefasao olhar para trás, constato que bem poucos foram os anos dedicados àquilo que se pensa que um missionário faz normalmente: pregar, baptizar, construir igrejas.comecei pelo ensino e formação de jovens e pude ver alguns deles exercer cargos importantes no Moçambique independente. Bem cedo fui chamado a assumir diversos cargos no Instituto, tanto em Moçambique como na Europa. Passei por actividades ligadas à animação missionária e à formação, até que, finalmente e a meu pedido, me encontro mergulhado em actividades pastorais a tempo quase inteiro, desde os 71 anos, que eu tinha então. Encontro-me em duas grandes paróquias da periferia de Maputo, com mais dois colegas. ao chegar, senti que precisava de aprender a trabalhar numa Igreja que se define como ministerial. São dois os aspectos que a caracterizam: os núcleos e os ministérios propriamente ditos. Os núcleos são grupos de 15 a 20 famílias da mesma zona. Reúnem-se uma vez por semana, para rezar, partindo da Palavra de Deus, e para tratar os assuntos relativos à vida da pequena comunidade. além de apoiarem a paróquia, os ministérios são a sua vida. Eis alguns deles: ministros extraordinários da Eucaristia e da esperança; leigos e família; vocações; justiça e paz; ecumenismo e diálogo inter-religioso; caridade e saúde. Este último educa à prevenção das doenças, cuida dos doentes, valorizando a medicina alternativa, mediante a produção de medicamentos extraídos das plantas. Os ministérios são exercidos por grupos de paroquianos voluntários. São umas centenas de pessoas que ajudam a formar e a construir a comunidade paroquial. a nossa missão consiste em acompanhar, formar e estimular todo o movimento. Sem menosprezar ajudas vindas de fora, no aspecto social privilegiamos o lema: Pobre ajuda mais pobre. Os núcleos e ministérios identificam as carências e a própria comunidade vai ao encontro delas, segundo as suas possibilidades. Há um ano, abrimos uma escolinha, agora com 70 crianças dos três aos cinco anos, para onde foram canalizadas as ofertas recolhidas na celebração do meu jubileu sacerdotal. É tudo isto que nos ocupa no dia-a-dia. É um trabalho aliciante e muito absorvente. Requer disponibilidade para as pessoas, e exige aprendizagem para quem, como eu, pouco exercera este tipo de actividade. Considero que teria sido uma lacuna na minha vida de missionário se não tivesse passado por esta fase tão exigente, mas igualmente muito gratificante.