Considerada uma das mais famosas do século XX, a encí­clica de João XXIII, «Pacem in terris» – Paz na terra – foi publicada há 48 anos, a 11 de abril de 1963
Considerada uma das mais famosas do século XX, a encí­clica de João XXIII, «Pacem in terris» – Paz na terra – foi publicada há 48 anos, a 11 de abril de 1963Então as encíclicas eram usadas pelo Papa como instrumentos para comunicar com os fiéis da Igreja católica no exercício do seu magistério. Pela primeira vez, a Pacem in terris dirigiu-se também a todos os homens de boa vontade. Ligados à doutrina social da Igreja, os princípios nela afirmados foram retomados e defendidos pelo Concílio Vaticano II, que decorreu de 1961 a 1965. O documento papal apontava as condições fundamentais para uma paz autêntica: terá de ser edificada a partir de uma ordem construída sobre a verdade, assentena justiça, alimentada e integrada pela caridade, e vivida na liberdade. Publicada dois meses antes da morte do Papa, dois anos depois da construção do muro de Berlim e alguns meses depois da crise dos mísseis em Cuba, a encíclica aparece no clima da guerra fria. É um período histórico de tensões e conflitos entre os Estados Unidos da américa e a União Soviética, que vai desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, até à queda da União Soviética, em 1991. Nesta conjuntura, João XXIII defendeu que, em vez do critério de equilíbrio em armamentos, que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio, mas sim e exclusivamente na confiança mútua, lê-se no número 113 do documento papal. Na realidade, o mundo ao qual João XXIII se dirigia, encontrava-senuma situação de profunda desordem, após duas guerras mundiais, mais outras locais, com a implantação de devastadores sistemas totalitários, com o acumular-se de imensos sofrimentos humanos e o começo da maior perseguição contra a Igreja, até então, conhecida na história. Muitos pensavam que a humanidade estivesse condenada a viver nas condições precárias da guerra fria, sujeita constantemente ao pesadelo de possíveis agressões ou desastres nucleares que pudessem desencadear, de um dia para o outro, a pior guerra de toda a história humana, que poria em risco o próprio futuro da humanidade. Passado quase meio século, as semelhanças entre o mundo de então e o de hoje são bastante significativas, apesar dos inegáveis progressos. Os fundamentos da paz continuam por implantar. as armas persistem em fazer valer a sua voz e ainda se acredita na sua força, em vez de se optar pelo poder do diálogo. No actual conflito da Líbia, chegámos a pensar que o medo acabaria por vencer o coronel Kadhafi, mas prevaleceu a sua irresponsabilidade e o Conselho de Segurança das Nações Unidas abriu as portas a uma intervenção militar para defender a vida dos civis líbios. a acção das armas é sempre um espectáculo horrível. É a derrota da palavra, da razão e do próprio homem. Muammar Kadhafi é o principal responsável, mas não o único. Pela demora de resposta às barbaridades cometidas, julgou-se impune e bombardeou o seu povo, massacrando cidadãos indefesos. É legítimo perguntar se a intervenção dos aliados vise, de facto, restabelecer a democracia ou pretenda colocar os recursos do gás e do petróleo nas mãos de interlocutores em quem se possa confiar. Os povos estão cansados de tirania, corrupção, ambiguidades e injustiça. É imperioso não esquecer que, na Tunísia e no Egipto, uma juventude moderna e numerosa, sedenta de justiça foi capaz de abater a ditadura. Os jovens não deixarão de ser exigentes e de estar vigilantes.