“Esta crise já poderia ter sido debelada há muito tempo por nós se não andassem a estragar o dinheiro que precisamos para o pão de cada dia”
“Esta crise já poderia ter sido debelada há muito tempo por nós se não andassem a estragar o dinheiro que precisamos para o pão de cada dia”São palavras do bispo emérito de Setúbal – que é conhecido por não ter “papas na língua” – em entrevista concedida ontem à rádio antena 1. Manuel Martins nascido no Norte, mantém a frontalidade e sinceridade que caracteriza as pessoas nascidas naquela região, tem uma vida dedicada ao sacerdócio, durante a qual privilegiou sempre os mais carenciados e marginalizados. a sua voz, apesar de incómoda para alguns, continua a ser respeitada e é um farol no meio de uma sociedade que se acomodou, que não contesta por não ter forças ou porque é silenciada.
“Esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, que não se considerassem responsáveis por clubes, mas por todo um povo cuja sorte depende muito deles”, é a sua análise em relação àqueles que deveriam ter assumido as suas responsabilidades e não o fizeram. Quanto à forma como as pessoas estão a encarar esta situação, o bispo alerta que “está a gerar um sentimento de raiva que é muito perigoso”. Lembra ainda que com “o agravar da situação e a má resolução da mesma” tendem a tornar-se “focos muito perigosos de um incêndio que pode surgir”, onde as “confrontações e revoltas generalizadas” poderão ocorrer.

O bispo tem uma opinião de reserva em relação às eleições que se aproximam, pois atenta a que os protagonistas têm emitido insultos, injúrias, o que leva à confrontação e inviabiliza a possibilidade de qualquer entendimento tão necessário para o combate para um futuro melhor. No que concerne às políticas sociais do Governo, vê com apreensão a sua justificação e afirma que “se há alguém que esteja a destruir o estado social do país é o Governo com o que se passa a nível da saúde, educação, da vida das famílias, impostos e outros”, que tem “só atingido as pessoas menos capazes – que andam no chão – com muito maior dificuldade em viver o seu dia-a-dia por causa destas medidas do Governo”.

Manuel Martins considera a política uma arte nobre, mas diz que “nós vamos ver a política depois encarnada em pessoas, em determinadas pessoas, cujo interesse é promoverem-se e promover os parentes, os amigos, etc. ” Contudo, adverte que há uma “grande incomodidade que está lançada sobre uma boa fatia dos políticos portugueses, é o emprego que podem perder agora com a mudança do poder, não deputados ou ministros, mas a multidão de pessoas que anda à volta destes senhores”.como vê o bispo o fim para esta crise? “Eu não queria ser pessimista, mas já tenho dito que esta crise não se vai resolver este ano, nem para o ano, nem para o outro ano, não sei quando é que se vai resolver, um dia esperamos que se resolverá”. São palavras que devem merecer uma reflexão cuidada e aprofundada de todos nós.