O profeta Ezequiel proclama: «Derramarei sobre vós uma água pura, e ficareis limpos de todas as vossas manchas e pecados. E dar-vos-ei um coração novo, e introduzirei em vós um Espírito novo: Dentro de vós porei o meu Espírito»
O profeta Ezequiel proclama: «Derramarei sobre vós uma água pura, e ficareis limpos de todas as vossas manchas e pecados. E dar-vos-ei um coração novo, e introduzirei em vós um Espírito novo: Dentro de vós porei o meu Espírito»Desde que foi feito o primeiro transplante de coração pelo doutor Christiaan Barnard, a 3 de Dezembro de 1967, na cidade do Cabo, África do Sul, uma nova era de esperança surgiu para tantas gentes das nossas terras. De facto, todos os anos, são feitos mais de 3. 500 transplantes de coração no mundo. Um coração deficiente desconcerta o funcionamento de muitos outros órgãos do corpo humano e o funcionamento de corpo inteiro. Mas há outro coração’ que, muitas vezes, precisaria urgentemente dum transplante: o coração espiritual, psicológico e moral de muitos de nós. É sabido – e o próprio Cristo o afirmava – que é do coração do homem que saem os maus pensamentos, as prostituições, os roubos, os adultérios, as ambições, a perversidade, a má fé, a devassidão, a inveja, a maledicência, o orgulho, os desvarios (Marcos 7, 21-22). Quantos desvarios na vida pessoal, familiar, nacional, mundial se poderiam evitar se houvesse possibilidade de substituir ou purificar tais corações. Sem tais desvarios, viveríamos nas bem-aventuranças.

É isso que nos diz o Senhor no cântico de entrada da missa do terceiro domingo de Quaresma: promete dar-nos um coração novo. Nesse trecho de Ezequiel, Deus continua: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. O significado é claro: querendo ou não, muitas vezes, procedemos para com os outros, especialmente para com os mais fracos e indefesos, como se tivéssemos um coração de pedra em que dificilmente mora a amabilidade e o amor, ou mesmo a justiça. Coração sem amor, vida pobre e sem sentido. Vai mais adiante o Senhor nas suas promessas. O nosso coração físico precisa de ser continuamente irrigado pelo sangue. O nosso coração espiritual, como insiste várias vezes a liturgia de hoje, precisa também da irrigação da água. Na primeira leitura o próprio Deus faz surgir água do rochedo para o seu povo sedento no deserto. No evangelho, que nos relata a conversa de Cristo com a mulher samaritana, diz Jesus: Se tu conhecesses o dom de Deus, pedir-lha-ias tu e ele dar-te-ia, a água viva! [] a água que eu dou, tornar-se-á no que a bebe uma nascente a jorrar para a vida eterna. E quem desta água beber, nunca mais terá sede. São João explica que, quando Jesus falava desta água, referia-se ao Espírito Santo que iam receber os que n’Ele acreditassem (João 7, 39).

Dói ver tantos corações que já não palpitam de amor. Traumatiza sentirmos o coração ferido pela indiferença, dureza, desprezo. Quantas desilusões a verterem lágrimas. Sentia-o agostinho ao clamar que inquieto vive o nosso coração enquanto não descansar em Deus. Corações de pedra, corações de espinhos! Voltemos à fonte das águas vivas’; desfaçamo-nos do coração de pedra que tanto afecta a nossa maneira de ser; aceitemos a oferta divina dum coração de carne’ sedento de amor puro, quente da amizade e compreensão. Vamos muito à presença do Senhor nos templos onde Ele paciente e amorosamente nos espera para nos encher da abundância da sua vida. Vamos ter com a nossa Mãe Maria: Ela recebeu a abundância do Espírito e daí nasceu o Redentor: a mesma dita nos espera a nós.