Centenas de tunisinos manifestaram, numa conferência em Tunis, o seu receio que as conquistas das mulheres estejam em perigo e exigem a separação entre estado e religião no texto da futura Constituição do país
Centenas de tunisinos manifestaram, numa conferência em Tunis, o seu receio que as conquistas das mulheres estejam em perigo e exigem a separação entre estado e religião no texto da futura Constituição do paísEstá fora de questão fazer cedências sobre as nossas conquistas ou aceitar as posições daqueles que querem conduzir-nos ao obscurantismo de há 14 séculos, advertiu a activista Fathia Baazi, aquando de uma conferência nacional das mulheres para a igualdade e a cidadania. O encontro foi organizado a 13 de Março, em Tunis, por quatro organizações não-governamentais, entre elas a associação tunisina da Mulheres Democráticas. Os dois partidos islâmicos Ennahda e o Hizb at-Tahrir são duas faces da mesma moeda, acrescentou a senhora Baazi, da cidade de Kasserine, do centro oeste do país, um dos focos da contestação que fez cair o presidente Ben ali

O partido Ennahda foi legalizado no início de Março, 30 anos após a sua fundação, e afirma querer manter-se fiel às conquistas das mulheres inscritas no código do estatuto pessoal (CNP), promulgado em 1956. O texto do código declara abolida a poligamia e o repúdio da mulher, uma excepção no mundo árabe. Mais radical e partidário da restauração do califado islâmico, o partido Hizb at-Tahrir viu recusada a sua legalização a 12 de Março, assim como duas outras formações islâmicas. após a revolução, houve grupos islâmicos que afirmaram que não poriam em causa os direitos das mulheres, mas o Ennahda e o Hizb at-Tahrir fizeram saber que não aceitariam a igualdade de géneros em matéria de heranças, sublinhou a activista alya Chérif Chammari, do colectivo 95 Maghreb-Igualdade.

a activista fazia referência à lei islâmica que, em matéria de heranças, concede à mulher apenas metade da parte que toca ao homem. a igualdade entre homem e mulher não será efectiva sem a separação entre o estado e a religião, advertiu a senhora Chammari. a futura constituição deverá sublinhar o princípio da separação e a igualdade entre mulheres e homens em todas as instâncias eleitorais e os princípios da igualdade e da não-discriminação, de acordo com um projecto de documento apresentado pela conferência. as mesquitas deverão ficar fora da política, acrescentou a senhora Chammami, dando voz aos receios de ver grupos islâmicos e integristas servir-se das mesquitas para preparar as próximas eleições de 24 de Julho. De facto, durante a revolução, não se ouviu nenhum slogan religioso recordou uma participante.