Na escolinha do Guiúa já se ouvem as primeiras palavras em português. as aulas só começaram há um mês, mas as crianças já participam activamente nas actividades, ainda que a terem lugar, provisoriamente, numa palhota
Na escolinha do Guiúa já se ouvem as primeiras palavras em português. as aulas só começaram há um mês, mas as crianças já participam activamente nas actividades, ainda que a terem lugar, provisoriamente, numa palhota a nova escolinha em alvenaria já está pronta e será inaugurada depois da Páscoa. É muito simples e ganhou novo ânimo com a construção de uma nova sala.com novas mesas e cadeiras e com muitas pinturas nas paredes, que visam ajudar à aprendizagem do vocabulário, as crianças e a professora não vêem a hora de mudar para as novas instalações. O horário lectivo é curto e a escolinha funciona apenas entre as 07h30 e as 10h30. Porém, às 7 horas já começam a chegar as primeiras crianças e esperam impacientes a vinda da professora. São 40 as crianças inscritas, entre os dois e meio e os seis anos. Uma assimetria etária nem sempre fácil de gerir, mas que se vai levando da melhor maneira.

Todas as manhãs começam com o acolhimento: aprender a responder à chamada, dar os bons dias e um momento intensivo de aprendizagem de vocabulário com a professora. Seguem-se as actividades: pintar com vários materiais, desenhar, trabalhar com plasticina e outras. Há então lugar para a aprendizagem de cantigas, actividade a que se dedicam a plenos pulmões, assim como a brincadeira para libertar as energias. antes de sair, lavam as mãos e acontece um momento muito esperado por todos: a papinha que comem até ao fim, sem que na sala se oiça o zumbir de um mosquito. apenas se ouve o ruído das colheres a bater no fundo das tacinhas. Duas vezes por semana, as crianças têm aula de ginástica com o jardineiro da missão, que se tem revelado um excelente professor. À sexta-feira, saem da sala da escolinha, em fila, para uma outra sala onde assistem a uma sessão de desenhos animados.

Os progressos são notáveis, se tivermos em conta que se trata de crianças que antes nunca ouviram uma palavra em português, que não sabiam sentar-se numa cadeira e, muito menos, permanecer nela, ou mesmo pegar num lápis. O mais gratificante é ir acompanhando o modo como respondem, como participam cada vez mais e se organizam melhor. Ouvir as vozinhas a cantar as canções que aprenderam é sinal de que aqui se inicia um caminho muito importante e fundamental para a educação em Moçambique, tão fragilizada pela difícil barreira da língua. Neste país o ensino oficial é em língua portuguesa e a maior parte das crianças chega à escola primária sem nunca ter ouvido ou falado português. as escolinhas são uma pequena presença, mas são tantas vezes o degrau que falta, para as crianças chegarem à escola minimamente preparadas.