Por volta do Verão seremos sete mil milhões de seres humanos. Boa parte da população do planeta será jovem, mas concentrada sobretudo nos países do Sul
Por volta do Verão seremos sete mil milhões de seres humanos. Boa parte da população do planeta será jovem, mas concentrada sobretudo nos países do SulContudo, Portugal, tal como o resto da Europa, os Estados Unidos e o Japão, caminha em sentido contrário: a fraca natalidade (1,3 filhos por mulher no nosso país) e a elevada esperança de vida (mais de 80 anos em regra) aliaram-se para fazer do mundo desenvolvido um mundo envelhecido. E isso traz desafios imensos, que vão desde a sustentabilidade da segurança social até ao problema das famílias diminutas, onde as situações de solidão se vão avolumar. O peso dos idosos na população portuguesa vai já nos 17,5 por cento e não pára de aumentar. Somos, aliás, o sexto país mais envelhecido do mundo, numa lista em que o topo é ocupado pelo Japão, famoso pela quantidade de centenários. Surpresa – Portugal também não se comporta mal nesse capítulo: o número de pessoas com mais de 85 anos quadruplicou desde o 25 de abril de 1974, passando de perto de 50 mil para quase 200 mil. É muita gente sábia, mas a quem a sociedade tende a dar escasso valor. O início de Fevereiro foi marcado por uma notícia insólita: uma senhora de 95 anos foi encontrada morta numa casa na zona de Sintra. Mas não se tratava de uma morte recente. afinal, augusta Martinho (e aqui é importante destacar que tinha um nome, que era gente) deixara de ser vista há nove anos, data provável do seu falecimento. Uma vizinha ainda estranhou o desaparecimento e familiares tentaram perceber o que se passava, mas como a lei não autoriza arrombar portas por mera suspeita de morte, o tempo foi passando e toda agente se esqueceu de augusta, menos as Finanças que vendo acumular dívidas penhorou a casa e a vendeu. Foram os novos proprietários que descobriram o corpo, já só esqueleto. Desde então, os jornais têm contado vários casos do género, ainda que com muito menos tempo de desaparecimento. E dá para perceber que a solidão é a regra para muitos milhares de idosos em Portugal. Vivem sós, morrem sós, algumas vezes mesmo esquecidos por todos. Seremos todos um dia velhos. É o destino. Mas tendemos a desvalorizar a velhice. Ora, há que mudar essa atitude e depressa. Graças à ciência, vive-se até mais tarde e com mais qualidade. E já que somos considerados aptos a trabalhar mais (aumento da idade da reforma), que essa valorização se transponha para o geral da vida social. Uma pessoa com 70 anos acumula muita experiência e saber, uma com 80 ou 90 ainda mais. Talvez não tenham família ou sejam ignorados pelos vizinhos, mas não as ignoremos todos nós, seja como sociedade, seja como instituições públicas. Um dia, se tudo continuar assim, seremos nós também a ser ignorados e não gostaremos nada.