“Não voltarão a cometer injustiças, não tornarão a dizer mentiras, nem mais se há-de encontrar na sua boca uma língua enganadora”
“Não voltarão a cometer injustiças, não tornarão a dizer mentiras, nem mais se há-de encontrar na sua boca uma língua enganadora”À luz da palavra de Deus acima citada da primeira leitura do quarto domingo do tempo comum, talvez venha a muitos portugueses a tentação de se perguntarem quantas injustiças’ são cometidas contra o povo da nossa terra e quantas mentiras’ foram proferidas por línguas enganadoras’ nos últimos tempos. Numa terra onde há tantos problemas para resolver, não foi bonito ver e ouvir, por ocasião do importante acto político que recentemente teve lugar entre nós, altas personalidades’ lançarem no rosto uns dos outros vociferações que nada têm a ver com a solução dos nossos problemas. Respondeu uma alta percentagem do nosso povo mostrando o seu dissabor pelo que estava a acontecer, abstendo-se de exercer o seu direito sagrado de votar. E, provavelmente, seria lógico muitos portugueses perguntarem-se quantas mega-contas têm concidadãos nossos nos bancos da Suíça, contas essas que permitem aos seus titulares escaparem ao pagamento de impostos que, em toda a justiça, deveriam ajudar os mais pobres a sobreviverem dignamente. E até pode ser que as angústias destes tempos passados e presentes se transformem em alegria para muita gente. De facto, a Constituição – chamemos-lhe assim – do novo Reino de Deus na terra, fundado por Jesus Cristo, foi-nos dada pelo próprio Filho de Deus no evangelho de hoje: as Bem-aventuranças, regras de bem viver que trazem aos fiéis de Cristo o direito à felicidade. Já o profeta Sofonias nos disse na primeira leitura que as bem-aventuranças são para o povo que põe a sua confiança no Senhor Deus. Bem-aventurados, felizes os pobres, disse Cristo. Pobres, não por causa da preguiça. Pobres economicamente, socialmente, culturalmente. O pobre de riqueza própria põe a sua confiança no Senhor. O rico que só confia na sua riqueza perde o direito à bem-aventurança. O rico que só confia na sua riqueza constrói à sua volta um muro que impede o seu relacionamento com Deus e com a maior parte do próximo: isola-se em si próprio, torna-se um míope social e espiritualmente. O exemplo clássico das bem-aventuranças é Jesus Cristo, que não tinha uma pedra sobre a qual apoiar a sua cabeça. O rico que possui muitos bens mas não se deixa dominar por eles, confia em Deus e reparte com os pobres, esse torna-se herdeiro da bem-aventurança. Quem aceita estas Leis do Reino dadas por Cristo e, por exemplo, trabalha para o estabelecimento da paz, gozará duma alegria límpida e profunda. Quem é o homem, o povo sábio e prudente, que construíram a sua vida sobre a rocha firme? É aquele que escuta e põe em prática as palavras de Jesus (cf Mateus 7, 24-27). E à nossa gente de hoje diz Cristo: Quem tem ouvidos para ouvir, que escute atentamente! (Mateus 13 9). Pois só na conversão pode um povo encontrar o rumo certo da sua vida.