é possível ensinar sem educar? Talvez seja, mas não é a mesma coisa
é possível ensinar sem educar? Talvez seja, mas não é a mesma coisaDesde que foram decretadas as medidas de austeridade pelo actual Governo, tendo como finalidade a redução do défice português (para combater a situação catastrófica em que o país se encontra), diversas classes sociais e entidades enveredaram pelo protesto e tentativas de obstrução às medidas. Seria de esperar que a elaboração deste plano nacional, para tentar evitar a falência do país, fosse devidamente ponderado em todos os aspectos, principalmente no plano social, o que não aconteceu. Segundo a opinião de economistas conceituados, os sacrifícios deveriam ser distribuídos equitativamente sobre pessoas, empresas e Estado (este gerindo com rigor as suas receitas e gastos em todos os sectores), incidindo a maior fatia sobre as classes e sectores mais favorecidos. Contudo e após começarem a ser aplicadas as medidas de restrição, verifica-se que, mais uma vez, serão penalizados aqueles que têm menor capacidade de resposta a nível individual e colectivo.como é natural, os cortes foram decretados também para o sector do ensino, sendo atingidas as escolas públicas e os estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. O Ministério da Educação – porquê Educação e não Ensino, como devia ser? – utilizou um critério discutível, senão mesmo imoral, ao fazer a distinção entre escolas públicas, com um corte de cerca de 10 por cento, e privadas (com as quais têm contractos de associação) entre 20 a 30 por cento. O presidente da associação das Escolas Privadas envolvidas (aEEP) já veio referir que este é um ataque político ao sector. E não é totalmente desprovida de razão tal afirmação. Em Fátima, há três colégios com cerca de 2. 800 alunos (Centro de Estudos de Fátima, Colégio São Miguel e Colégio Sagrado Coração de Maria) que, com a redução prevista, terão grandes dificuldades em manter a qualidade de ensino adequada e de acordo com os projectos educativos aprovados e aceites pelos pais dos alunos. Estes colégios mantêm um vínculo ao Estado (através de contracto) pelo serviço público que prestam, devido à ausência de resposta pública de ensino na cidade. Oferecem um ensino de elevado nível, mas respondem ainda a outros interesses formativos do aluno (enquanto pessoa). Ou seja, preparam os alunos no aspecto educativo e social em várias vertentes. Mais concretamente, fazem aquilo que a escola pública não dá: educação e melhor formação individual a vários níveis. Interessante, foi a posição tomada pelos encarregados de educação e alunos do colégio de São Mamede (perto de Fátima). Fizeram uma peregrinação a pé até ao Santuário de Fátima, onde formaram um cordão humano por detrás da Basílica da Santíssima Trindade para mostrar à ministra da Educação que “a fé é a última a morrer”. afinal, o que pretendem as escolas privadas com associação ao Estado? Essencialmente, querem dialogar para poder manter a qualidade que ministram e que o Estado não tem capacidade para fornecer ao sujeito aluno que, na sua perspectiva, deverá ter a possibilidade de escolha. a nossa sociedade está carecida de diálogo genuíno, verdadeiro e capaz de unir as pessoas, especialmente nas dificuldades. E quem governa tem obrigação de o fazer, caso contrário será mais benéfico para todos que abandonem os tachos do poder.