O ano lectivo começou. Em todo o país, milhares de crianças, de longe e de perto, percorrem os caminhos para a escola. Mas a situação escolar é preocupante
O ano lectivo começou. Em todo o país, milhares de crianças, de longe e de perto, percorrem os caminhos para a escola. Mas a situação escolar é preocupanteO panorama do ensino, em Moçambique, atravessa tempos difíceis. Os professores são poucos e nem todos têm a qualificação mais apropriada; em contrapartida, os alunos são muitos. Chegam a existir turmas com mais de 50 crianças e muitas não têm sequer onde se sentar. as assimetrias do sistema educativo são muitas e a todos os níveis. Das aulas sob os cajueiros, às salas de aula apetrechadas com todos os recursos, incluindo os informáticos; das crianças que chegam a percorrer a pé 15 quilómetros, diariamente, para poderem frequentar a escola, àquelas que chegam em modernos veículos todo o terreno; das pastas dos livros, improvisadas em sacos de plástico que antes continham açúcar, às modernas mochilas, todos os anos renovadas. Um abismo de diferenças separa as crianças moçambicanas e vinca a desigualdade de oportunidades. No lado mais agreste desta verdadeira batalha educativa, está evidentemente o maior número das crianças moçambicanas; do outro lado, uma escandalosa minoria. a potenciar todo este desequilíbrio está o facilitismo, essa falaciosa ferramenta de combate ao insucesso escolar: transições de ano que ignoram as competências não adquiridas; alunos que chegam à 12a classe e lêem, escrevem e compreendem mal; o pulular de universidades e de cursos de qualidade e conteúdos duvidosos, que todos os anos debitam graduados para um país exangue de quadros qualificados e que se vê dramaticamente confrontado com uma multidão de jovens quadros sem quaisquer conhecimentos reais. O panorama é preocupante e começam a ouvir-se vozes de denúncia, na imprensa escrita e da própria Igreja. Estas vozes corajosas, felizmente, vão encontrando ecos junto de alguns professores que se disponibilizam para inverter esta situação. Na paróquia de Santa Isabel do Guiúa, vamos iniciar, este mês, em conjunto com alguns professores, acções de formação que visam alertar pais e alunos, para os perigos do facilitismo, das transições de ano automáticas, para a necessidade do estudo e da aquisição real de conhecimentos. Todos juntos conseguiremos cumprir o desígnio do hino nacional moçambicano que, todas as manhãs, as crianças entoam antes do início às aulas: Pedra a pedra, construindo um novo dia, milhões de braços, uma só força. Enfim, Moçambique poderá ser uma terra gloriosa!