Iluminam-se duas ruas, coloca-se uma pista de gelo, ergue-se uma árvore gigante e chamam-lhe cidade natal!
Iluminam-se duas ruas, coloca-se uma pista de gelo, ergue-se uma árvore gigante e chamam-lhe cidade natal!Fátima, pelos acontecimentos verificados em 1917, foi sendo conhecida mundialmente pela mensagem que a Senhora revelou aos três pastorinhos e originou um renovamento da fé ao longo de quase cem anos.
Esse, o lado positivo para os cristãos e até para os não cristãos. No entanto, como outros lugares onde sucederam fenómenos idênticos, criaram-se pólos de aproveitamento turístico e outros, o que é normal, mas que necessita de ser enquadrado, tendo em conta o sentido religioso que motiva milhões de visitas anuais.
É desta forma que o poder político tem obrigação de encarar as realizações que envolvam a cidade de Fátima. a Cova da Iria, agora freguesia de Fátima, tem a sua génese nas aparições de Nossa Senhora, pois se tal não tivesse acontecido, esta pequena freguesia seria um lugar desconhecido e possivelmente esquecido.
O poder político a nível nacional serviu-se de Fátima (e continua a fazê-lo) para a sua propaganda, o poder autárquico – concelhio ou local – tem seguido as mesmas pisadas.
Esta época natalícia, o Município de Ourém tomou a iniciativa de um projecto pretendendo atrair a esta cidade mais visitantes. Para isso, aproveitando as iluminações, montou uma pista de gelo, uma árvore de 25 metros, como atractivo, para além da exposição de presépios em tamanho real, estes da responsabilidade de associações de Fátima e Ourém. ah, e uma casa do Pai Natal, e ainda, um comboio natalício para as viagens!
Na inauguração do evento, Nazareno do Carmo, vereador com o pelouro de Fátima, salientou que este projecto representa um esforço do Município para que se possa ter em Fátima mais gente este mês.
Lembramos que o Santuário tem um programa próprio para esta época festiva – há alguns anos a esta parte -, o que tem trazido mais peregrinos (visitantes), como é notório. E aqui chegados, vamos ao âmago da questão. O Santuário foi consultado pela Câmara para aderir a este projecto e não aceitou, é fácil concluir o porquê, não é verdade?
Árvore natalícia e casa do Pai Natal – nas barbas do Santuário – não rimam com a simbologia da Igreja e têm mesmo um certo antagonismo deste evento da festa do Natal. E muito menos com os acontecimentos que todos devemos respeitar e deram origem à Fátima que hoje conhecemos.
Os mais empertigados poderão argumentar: Mas é um programa de animação para a quadra, não pretende entrar em choque com a Igreja. acreditamos que sim e até seria louvável, se não fosse um aproveitamento de imagem do lugar, mas em contradição com o sagrado e ainda por cima a pagar pelos visitantes.
Com o devido respeito, recordo a todos aqueles que vivem à sombra da azinheira de Fátima, que seria bom demonstrarem uma maior abertura moral e política, não confundindo o profano com o religioso, tal não é digno de quem exerce o poder, mesmo em democracia.