Quem diria que um homem solitário havia de fazer os outros felizes com um “adeus”?
Quem diria que um homem solitário havia de fazer os outros felizes com um “adeus”?Os meios de comunicação social noticiaram com relevo na quinta e sexta-feira passadas a morte do Senhor do adeus, um homem com 80 anos que acenava todas as noites aos automobilistas que passavam entre as Picoas e o Saldanha, na capital lisboeta.
Nos últimos dez anos este cidadão matava a solidão da noite com um sorriso e um aceno aos automobilistas e estes correspondiam com uma apitadela amiga. Ele dizia que a solidão da noite era uma malvada, que o perseguia por entre as paredes vazias da casa. Desde os 65 anos que vivia sozinho, após a morte da mãe com quem coabitava.começou a fazer caminhadas solitárias durante a noite pelas ruas de Lisboa.comecei a acenar às pessoas em vários pontos da cidade, depois decidi que era nas Picoas que me sentia melhor. Passei a minha infância aqui contou ao Público, em 2001.
Chovesse ou não, fazia isso diariamente, tal como se fosse uma missão.começou a ser conhecido como o Senhor do adeus , mas ele preferia que o considerassem Senhor do Olá . Será caso para perguntar o porquê de tanta admiração por este homem que se limitava a dizer adeus e a sorrir a quem passava. alguém disse que Era o símbolo de uma cidade mais humana, menos impessoal .
Lembramos que após a sua morte foi lançado um movimento no Facebook que ontem já tinha cerca de 14. 000 aderentes/admiradores. É de facto um fenómeno impressionante. E tudo isto, porquê? Por um aceno, um sorriso de simpatia que um homem fazia noite após noite, durante anos.
Este facto deve fazer-nos reflectir. Todos nós sentimos – em alguns momentos da vida – a malvada solidão, como ele dizia. É nossa obrigação ultrapassá-la, e ajudar os outros a fazê-lo também – de preferência de uma forma positiva. a solidão não escolhe idades, nem condição, mas afecta milhões de pessoas. É nos momentos difíceis que ela surge e que nos pode levar à falência psíquica.
Os mais idosos e desfavorecidos são mais atingidos por esta sequela da falta de companhia, de amizade, de amor. Todo o ser humano vive mal na solidão, exceptuando casos incomuns. Numa cidade, a vida dos habitantes é ainda mais isolada que muitos de nós pensamos. as pessoas vivem ao lado umas das outras, mas no quotidiano todas têm as suas tarefas e não há tempo, nem condições, para se conhecerem.
Mas também há aqueles que vivem na solidão por não ter alguém que disponha um pouco de tempo para eles, que os visite, uma mão amiga que lhes acene em sinal de amizade. Sejamos cristãos ou não, temos que acolher esta realidade. a palavra solidão tem de ser banida do nosso dia-a-dia, temos que ser solidários com os outros, sobretudo aqueles que vivem connosco, perto ou mesmo longe de nós. Temos que cultivar a solidariedade, pois quem não a tem, morre aos poucos e pior que isso, torna-se anti-social.