“Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”, lê-se em apocalipse 3, 20
“Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”, lê-se em apocalipse 3, 20É bem conhecida a frase de Santo agostinho: Timeo Jesum transeuntem – tenho medo que Jesus venha ter comigo e que eu O não receba, e que Ele vá e não volte. Uma falta de hospitalidade que traria consigo más consequências. É o tema da primeira leitura e do evangelho do 16º Domingo comum: a hospitalidade. Nos tempos antigos, e ainda hoje em muitos lugares da terra, a hospitalidade é considerada como qualquer coisa de sagrado, que ninguém pode violar. De facto, todos nós somos hóspedes nesta terra que Deus criou para nós e que a Ele pertence: hóspedes e peregrinos.
Na primeira leitura, abraão, sentado à entrada da sua tenda, vê chegar ao pé de si três hóspedes. Neles reconhece a Deus e serviu-os da maneira melhor que pôde. Provavelmente conhecemos o ícone de extraordinária beleza e significado pintado pelo russo andré Rublev, em que se vêem estes três hóspedes sentados em mútua contemplação e em quem a iconografia cristã reconhece as três Pessoas da Santíssima Trindade. No evangelho, Jesus torna-se hóspede em casa de uma família amiga: de Marta e Maria. ali Jesus ensina que as actividades para servir o próximo são sinal de amor, mas que a ausência de amor e contacto directo com Deus conduz logicamente a um sentimento de vazio interior.
Numa humanidade em contínuo movimento, como a dos nossos dias, tempo de tantas migrações e emigrações de irmãos e irmãs nossas que procuram uma vida decente para si e para as suas famílias, ou que fogem a várias perseguições, mesmo mortais, a hospitalidade volta a ser uma virtude que o cristão deve considerar, meditar e praticar à luz da Palavra de Deus. No evangelho, Jesus mostra-nos que o que fazemos ao próximo necessitado, Ele o considera feito a si próprio. Tal comportamento é mesmo condição essencial para gozarmos da presença de Deus com todos os seus santos para todo o sempre (cf. Mateus 15, 31-46). O próprio Jesus foi também hóspede numa terra estrangeira, o Egipto, quando Maria e José tiveram de fugir à sanha de Herodes.
a hospitalidade não é um problema que se resolve assim de um pé para o outro; é preciso interiorização, é necessário encontrar soluções à luz da fé e do amor que o Senhor Jesus tem por nós e exige de nós para com os necessitados. Condição para praticar a hospitalidade é sabermos escutar os que dela precisam. agindo dessa maneira, Jesus entrará e ceará connosco. Quer dizer, partilhará connosco a sua própria felicidade de Redentor e Senhor do Céu e da Terra. Se Deus nos dá o mandamento da hospitalidade é porque Ele próprio nos quer hospedar na sua morada, como reza o Salmo 14.