a Igreja (hierarquia) não se quer intrometer em Política, essa posição será correcta?
a Igreja (hierarquia) não se quer intrometer em Política, essa posição será correcta? a posição da Igreja foi recordada por Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) em Fátima, durante a conferência de imprensa realizada em 17 de Junho passado. Devemo-nos cingir ao motivo da resposta, ou seja, que foi a propósito de notícias veiculadas pela comunicação social de que sectores católicos procuram um candidato alternativo na área política da direita portuguesa.
Jorge Ortiga disse: Temos referido que o nosso trabalho é essencialmente um trabalho de formar as consciências e, depois, cada um, naturalmente, terá que escolher e terá de optar. Não discordamos da posição do presidente da CEP, mas será oportuno lembrar que a Igreja procura intervir, sempre que possível, na defesa dos direitos humanos. E a política quer queiramos ou não, está associada aos mesmos, embora por motivos diferentes.
Por outro lado, recordamos que na década de 60 ouvimos palavras idênticas a estas proferidas pelos políticos no poder ou a ele ligado a Igreja não se deve meter na política, no sentido de uma advertência clara, raiando a ameaça. Volvidos cinquenta anos, as palavras deste alto dignitário da Igreja não diferem muito daquelas que outrora os políticos utilizaram para imobilizar os cristãos que se atreviam a lutar pelos direitos dos cidadãos através da política.
Como é evidente, este paralelismo deixa-nos preocupados, enquanto leigos na Igreja, embora tenhamos que fazer a devida distinção entre os homens da Igreja e os políticos. Podemos aceitar que a Igreja (hierarquia) não se queira intrometer na política, mas já não pensamos o mesmo quanto à responsabilidade de formar consciências, pois isso também deve passar por um conhecimento real do que é a política.
É ao Estado, ou às suas estruturas, que cabe a formação do cidadão. a política deveria ser ensinada nas escolas, como qualquer outra disciplina, mas isso não interessa a quem detêm o poder, pois o obscurantismo é um dos maiores aliados de quem governa. O cristão necessita de ser esclarecido, catequizado na política, por isso entendemos que a Igreja também se deve preocupar com isso, pois o exercício da política define a vida das pessoas e dos países.
Não conhecemos nenhum colégio católico que tenha uma disciplina de política, no entanto a religião e moral fazem parte dessa oferta de ensino e em nosso entender, bem. apesar de ser um valor (sim, é um valor) diferente, a política tornou-se um saber tão necessário e não menos importante que outros valores. a Igreja de hoje terá que repensar a necessidade de incentivar tudo aquilo que possa permitir uma formação de consciências livres e sãs, não se deixando intimidar pelos detentores do poder, por inércia ou por menos audácia.