Foi uma apoteose popular o terceiro dia de Bento XVI em Portugal. Fátima foi, mais uma vez, palco de um novo Pentecostes, “um cenáculo a céu aberto”
Foi uma apoteose popular o terceiro dia de Bento XVI em Portugal. Fátima foi, mais uma vez, palco de um novo Pentecostes, “um cenáculo a céu aberto”Gostei de ver a multidão que soube passar dos aplausos e vivas ao Papa ao recolhimento e à oração com pausas e silêncios que dignificaram a celebração. apreciei as palavras do Santo Padre: o seu tom confessional, professando sem receios o seu amor a Deus e a Nossa Senhora e incluindo-nos a nós todos dentro da mesma profissão de fé, de amor e de confiança: Vim a Fátima para confiar a Nossa Senhora a confissão íntima de que amo, de que a Igreja, de que os sacerdotes amam Jesus e n’Ele desejam manter fixos os olhos ao terminar este ano Sacerdotal, e para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus. Gostei da maneira como o Papa nos ensinou aquilo que é essencial, voltando-nos para o interior de nós mesmos e apresentando-nos Maria como Mestra que introduz os pequenos videntes no conhecimento íntimo do amor Trinitário e os leva a saborear o próprio Deus como o mais belo da existência humana. Uma experiência de graça que os tornou enamorados de Deus em Jesus, a ponto da Jacinta exclamar: Gosto tanto de dizer a Jesus que O amo. Quando Lho digo muitas vezes, parece que tenho um lume no peito, mas não me queimo. São coisas que podem porventura passar despercebidas, mas que são fundamentais na vivência cristã.
Gostei da maneira como passou desse amor de Deus para o amor do próximo, falando a todos aqueles que se dedicam de alma e coração à pastoral social: Quem aprende de Deus amor será inevitavelmente pessoa para os outros. Realmente, o amor de Deus revela-se na responsabilidade pelo outro Unidos a Cristo na sua consagração ao Pai, somos tomados pela sua compaixão pelas multidões que pedem justiça e solidariedade e, como o bom samaritano da parábola, esforçamo-nos por dar respostas concretas e generosas. a Igreja portuguesa mostrou com evidência a maneira como está apostada em dar o seu precioso contributo na esfera social. Bento XVI pediu que estas instituições timbrem pela firmeza da identidade, sabendo nós que todas elas estão radicadas na compaixão de Cristo pelos mais carenciados.
Gostei da maneira como os nossos bispos têm acompanhado o Santo Padre em todas as celebrações e da maneira como ele mesmo – falando aos bispos – propôs para os cristãos caminhos de testemunho e de fé aberta na sociedade. Lamentando a existência de crentes envergonhados na Igreja Católica, que contribuem para um silêncio da fé nos âmbitos políticos, económicos e mesmo da comunicação social. Pediu-nos a todos mais coerência com a nossa fé com um vigoroso apelo a sermos verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos, onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo. É um campo enorme a desbravar.
Finalmente, apreciei o modo como os nossos bispos estão a repensar a pastoral nas próprias dioceses. Tal como se exprimiu Jorge Ortiga na saudação ao Santo Padre, os nossos pastores querem empenhar-se numa pastoral marcada pelo testemunho de unidade voltada para os novos desafios que a mudança civilizacional nos proporciona, dando prioridade à fé como encontro com o Ressuscitado para que Ele seja capaz de mudar a vida, enamorar os leigos e os sacerdotes e suscitar uma nova consciência missionária. Os bispos disseram ao Santo Padre que desejam caminhar para um novo estilo de vida, marcado pelo compromisso e pela paixão ao nosso país, a necessitar de uma urgente reevangelização, nunca esquecendo a responsabilidade histórica de partir para outros continentes. Por tudo isto e muito mais que se viu e ouviu, também este terceiro dia foi um dom excelente para Portugal, na descoberta das raízes da própria fé e da missão.