a integração europeia atravessa tempos complicados. O Tratado de Lisboa levou anos e anos aprovar, por vezes recorrendo-se, mesmo, a métodos pouco democráticos
a integração europeia atravessa tempos complicados. O Tratado de Lisboa levou anos e anos aprovar, por vezes recorrendo-se, mesmo, a métodos pouco democráticosE agora a aplicação do Tratado suscita dificuldades. O impulso para a unidade parece ter enfraquecido, prevalecendo a via intergovernamental sobre a comunitária. O euro enfrenta uma crise, com os países da moeda única a não darem uma resposta rápida e eficaz aos problemas financeiros da Grécia.
Mas, olhando para o que já se conseguiu, tem de se concluir que a União Europeia – hoje alargada a 27 Estados membros – é uma construção original e muito atractiva para esta era de globalização. E que parte dos problemas actuais é resultado dos próprios êxitos já alcançados. Por exemplo, o clima de paz que hoje se vive na Europa – inédito na história do continente – e o desaparecimento da ameaça soviética levam os governantes europeus a envolverem-se em lutas menores de carácter económico e político.
Ora a paz na Europa foi o grande objectivo dos pais fundadores da União Europeia. Há 60 anos, o então ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Robert Shuman, apelou à reconciliação franco-alemã e à construção de uma Europa livre das guerras que dilaceraram o velho continente – e o mundo – na primeira metade do século XX. Isto, sem falar nos anteriores e menos mortíferos conflitos entre países europeus ao longo de muitos séculos. a declaração de Shuman não foi um mero voto piedoso: foi uma proposta muito concreta, visando pôr em comum entre a França, alemanha e outros países a gestão do carvão e do aço – nessa altura poderosos símbolos económicos e de poderio militar.
Foi, assim, possível que franceses e alemães, inimigos mortais até aí, dessem as mãos na reconstrução europeia. Desde então, os conflitos na ex-Jugoslávia foram as únicas excepções à paz que passou a predominar na Europa. E agora a UE integra países da Europa de Leste, até há vinte anos inimigos dos países europeus ocidentais.
Nada disto teria sido possível sem o espírito de paz de Robert Shuman, um homem que participou na Primeira Guerra Mundial inserido no exército alemão, pois vivia na alsácia-Lorena, províncias ocupadas pela alemanha desde a guerra franco-prussiana de 1870. Não é por acaso que o católico Shuman está em processo de beatificação no Vaticano.como não foi indiferente que outros grandes líderes que lançaram a integração europeia – De Gasperi e adenauer, por exemplo – fossem também católicos convictos.
Às vezes parece-nos que a construção europeia tem sobretudo a ver com assuntos de mercearia. É útil, por isso, tomar consciência do espírito de paz que presidiu ao lançamento da integração. Os valores éticos contam.