Como missionários habituados a lidar com situações de pobreza, aderimos, sem hesitar, ao ano de luta contra a pobreza e a exclusão social proclamado pela União Europeia para 2010
Como missionários habituados a lidar com situações de pobreza, aderimos, sem hesitar, ao ano de luta contra a pobreza e a exclusão social proclamado pela União Europeia para 2010Escolhemos este tema como inspiração e compromisso vinculativo aderente a todas as nossas actividades; distribuímos um calendário com um tema alusivo ao evento para cada mês do ano; lançámos uma campanha a favor duma aldeia pobre num dos países mais pobres do mundo, a Guiné- -Bissau; pusemos os nossos meios de comunicação social – revista e sites – a alertar para tão urgente problema. agora, os trágicos efeitos do terramoto do Haiti vieram dar razão e maior urgência a esta escolha oportuna.
Quando se dão estas catástrofes as reacções são quase sempre as mesmas: constatação da impotência humana perante tais convulsões da natureza, estranheza e, em muitos casos, escândalo de muitos por uma alegada insensibilidade e ineficácia do poder divino, tido, em princípio, como o único responsável capaz de domar o que criou e de proteger as criaturas que colocou na natureza. Uma terceira reacção é a de consternação por serem sempre os mais pobres e frágeis as maiores vítimas, inocentes, a sofrerem.
Estas constatações colocam-nos perante o problema de atribuição de responsabilidades. O pobre é geralmente um excluído social. Não tem voz, não tem vez, como não tem acesso a lugares e casas dignas onde viver.
Quem conhece certas cidades da américa Latina – e não só – sabe que, ao redor delas há aglomerados populacionais (cerros, favelas, bairros de lata) onde milhões de pessoas construíram e se instalaram em casebres, tugúrios, cabanas, choças, choupanas, covis, refúgios. Invadiram terrenos proibitivos, sem consistência e com desníveis impróprios para qualquer tipo de construção. Porque é que o fizeram? Porque precisavam. Sem posses e, por isso mesmo, automaticamente excluídos da cidade ali foram construir. alguém os deixou construir arredando-os de lugares mais propícios, destinados à especulação imobiliária.
a ganância, a corrupção, a tolerância e insensibilidade dos governos são a causa de tantos atentados contra a natureza e não observância de leis anti-sísmicas de construção. O mandato de Deus crescei e dominai a terra deixa muitas culpas a quem abusa da terra profanando-a com utilizações incompatíveis com ela.
Não, não é castigo nem ineficácia do poder de Deus, senão, o castigo (que nem é arma de Deus) seria para os prevaricadores e para quem coloca os pobres e se coloca a si próprio à mercê das catástrofes. Diante delas não há privilegiados nem imunes.
Quem é crente em Deus, cristão, pode ser levado a pensar que teria direito a privilégios. O único privilégio é o de servir, como fez o Mestre ao dizer: Eu não vim para ser servido mas para servir. Cada qual segundo as suas responsabilidades para se criar neste mundo uma morada digna para todos, através duma cultura de solidariedade tendente a prevenir e não só a remediar.