“as vossas palavras, Senhor, são Espírito e vida, os vossos preceitos são luz para os meus olhos”, reza o salmo responsorial do terceiro domingo comum
“as vossas palavras, Senhor, são Espírito e vida, os vossos preceitos são luz para os meus olhos”, reza o salmo responsorial do terceiro domingo comumEm 1964 o governo romeno libertou da prisão vários chefes religiosos e políticos. Entre eles encontrava-se um tal Ricardo Wurmbrand que passara três dos seus anos de prisioneiro num pequeno quarto isolado de todos. No seu livro Torturado por amor a Cristo, escreve que, um dia, chegou à cadeia um novo prisioneiro chamado avram.
a parte superior do seu corpo estava toda engessada por causa de torturas recebidas. Quando os guardas saíram, avram tirou de debaixo do gesso um livrito esfarrapado, Nenhum dos outros prisioneiros tinha visto um livro desde há muito tempo. O livrito de avram era o Evangelho segundo São João. Desde esse dia em diante, tanto avram como os outros prisioneiros devoravam as páginas do livrito como se fossem salva-vidas, passando-o continuamente de mão em mão.
Todos nós somos ávidos de notícias. Livros, jornais, revistas, programas de televisão, internet… Quanto tempo passamos a contactá-los! Deveríamos também perguntarmo-nos: Quantas vezes lemos o maior bestseller, o livro campeão de vendas de todos os tempos, a Bíblia, que é o livro da Vida, quer dizer, o livro onde se encontra a vida, o único livro que aponta para a verdadeira vida. Especialmente no Novo Testamento encontramos Jesus Cristo, e com ele, no evangelho, dialoga o nosso coração e a nossa mente.
Na primeira leitura deste domingo, é-nos narrado o seguinte facto. Durante certo tempo do antigo Testamento, tinha o povo de Israel perdido contacto com o Deus da sua aliança. Um dia, descobriram o livro de Deus, que foi lido diante de toda a multidão desde a manhã até ao meio-dia. ao fim, todos aclamaram jubilosamente a Palavra ouvida, dizendo: Ámen, Ámen!. E o povo chorava ao ouvir a Palavra de Deus (Neemias 8, 1-12). Diz-nos o Concílio Vaticano II, a Igreja venerou sempre as Sagradas Escrituras, como o próprio corpo do Senhor… (Constituição Dogmática sobre a Divina Revelação – Dei Verbum — nº 21).
No evangelho deste domingo, o próprio Senhor Jesus afirma ter-se cumprido n’Ele a Escritura proclamada por Deus por meio dos seus Profetas no antigo Testamento: Cumpriu-se hoje em mim esta passagem da Escritura que acabais de ouvir (Lucas 4, 21). Pensemos de forma correcta e efectiva: ao lermos a Sagrada Escritura, especialmente a Boa Nova ou Evangelho, colocamo-nos em contacto directo com o nosso Salvador. Para terminar este conceito, uma frase dum grande escritor eclesiástico dos primeiros tempos da vida da Igreja (Orígenes, anos 185-253): Recebeis o Corpo do Senhor com todo o cuidado e reverência para que nem a mais pequenina migalha caia no chão. Deveríeis receber a Palavra de Deus com igual cuidado e reverência para não perderdes a mais pequenina das suas palavras. Cada vez que lemos ou ouvimos a Palavra do Senhor, deveríamos arranjar depois tempo para pensarmos nela e nos perguntarmos: O que é que o Senhor me está a dizer nesta sua palavra? Porque, como dizia São Gregório, a Bíblia é uma carta de amor que Deus mandou ao seu povo, carta em que podemos sentir o bater do seu coração.