Na encí­clica «Caritas in Veritate», o Papa Bento XVI afirmou que “as modalidades com que o homem trata o ambiente influem sobre as modalidades com que se trata a si mesmo e vice-versa
Na encí­clica «Caritas in Veritate», o Papa Bento XVI afirmou que “as modalidades com que o homem trata o ambiente influem sobre as modalidades com que se trata a si mesmo e vice-versaIsto chama a sociedade actual a uma séria revisão do seu estilo de vida. agora, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se celebra a 1 de Janeiro, Bento XVI aborda desenvolvidamente a responsabilidade comum para com a humanidade, especialmente os pobres e as gerações futuras, que o respeito pela criação implica. Naturalmente que o Papa não entra em propostas técnicas sobre a crise ecológica. Faz algo mais importante: vai à raiz do problema, que é moral e antropológico.
as situações de crise que estamos a atravessar, de carácter económico, alimentar, ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas, sublinha o Papa. Por isso apela Bento XVI a uma profunda renovação cultural: é preciso redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos. Os comportamentos egoístas, individualistas, hedonistas, que ignoram o bem-estar das gerações futuras e o sofrimento dos pobres não permitem resolver os problemas do ambiente. Não se pode avaliar a crise ecológica, prescindindo das questões relacionadas com ela, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação.
Entra aqui a perspectiva antropológica, ligada ao imperativo ético. É que, diz o Papa, corre-se o risco de se atenuar nas consciências a noção de responsabilidade, quando a natureza e sobretudo o ser humano são considerados simplesmente como fruto do acaso ou do determinismo evolutivo.
Não se vejam nas palavras de Bento XVI fantasmas de qualquer rejeição das teorias científicas de Darwin (como é característico de várias confissões protestantes e fundamentalistas americanas). O Papa rejeita, sim, a metafísica mais ou menos implícita de alguns darwinistas, que negam qualquer sentido à natureza e ao homem.
Com tão triste visão da existência e da pessoa humana (cujo valor fica assim reduzido) é de facto difícil uma luta consequente contra os danos ambientais.
Nesta mensagem para o dia 1 de Janeiro de 2010, o Papa não refere uma das suas ideias que me parecem mais esclarecedoras e significativas: a ideia de que o relativismo actual leva a uma concepção débil da pessoa. É que esta concepção é incapaz de fundamentar solidamente os imperativos da solidariedade e os próprios direitos humanos. Esta perspectiva é a chave para compreender, na sua profundidade, as palavras do Papa.