«O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor», reza o livro do apocalipse (5,12; 1,6)
«O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor», reza o livro do apocalipse (5,12; 1,6)Dia 23 de novembro de 1927. De pé diante do pelotão de execução, o padre mexicano Miguel Pro, que o presidente da república Plutarco Elías Calles mandara executar por fazer o seu trabalho de sacerdote católico, fez o seu último pedido aos soldados executores. ajoelhou-se no chão e rezou. Depois levantou-se. Quando as espingardas foram apontadas ao seu peito, o sacerdote alargou os braços em cruz, o crucifixo numa das mãos e o terço na outra, e gritou: Viva Cristo Rei. Ouviram-se os disparos. Caído no chão ainda vivo, aproximou-se dele um soldado e disparou-lhe uma bala à cabeça.
Viva Cristo Rei! No último domingo do ano litúrgico de 2009, celebramos a festa resumo de toda a liturgia do ano: Jesus Cristo incarnado no seio da Virgem Maria, pregador da Palavra da salvação, vinda do coração da Trindade Santíssima, crucificado, morto, ressuscitado e elevado ao Céu, é Ele o Rei de todo o universo e de cada um dos elementos que o compõem. a palavra rei traz ao nosso pensamento várias ideias mais ou menos descritivas do que foram os reis através da história da humanidade. alguns deles rodearam-se de riqueza e glória. Outros tornaram-se déspotas, matando a torto e a direito todos os que lhes faziam sombra. Outros lutaram valentemente para formarem uma pátria para o seu povo. Houve depois aqueles que governaram com compreensão e caridade os povos para quem viviam.
Que espécie de rei é Jesus? Vendo bem as coisas, é natural que, durante a sua vida na terra, Jesus Cristo nunca proclamou ser rei. Seria incitar os judeus a uma revolta contra os romanos que então ocupavam a terra deles. Umas oitenta vezes lemos nos evangelhos o nome que ele dava a si próprio: Filho do Homem. Deus, como o Pai e o Espírito Santo, o Verbo, sem jamais deixar de ser Deus, incarnou, quer dizer, assumiu uma carne igual à nossa em tudo menos no pecado. Era necessário para poder Ele sofrer a sua paixão, morrer e ressuscitar para salvar a humanidade – pois como Deus nada podia sofrer. ao fim da sua vida, diante de Pilatos, afirmou Jesus ser rei, mas ajuntou: O meu reino não é deste mundo (João 18,36). Disse em seguida: Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade (João 18,37). Cristo veio ao mundo para dar testemunho da verdade, com a sua palavra e a sua morte, do amor infinito do Pai, amor que se traduziu na salvação da humanidade, concretizada na morte e na ressurreição de seu Filho, Jesus Cristo.
No seu romance Os Irmãos Karamazov, o escritor russo Feodor Mikhailovich Dostowevski fala das circunstâncias da morte de Cristo. Diz ele: Os chefes dos judeus desafiaram Cristo pregado na cruz: ah! Se é verdade que ele é o Filho de Deus, pois que desça agora e já da cruz, e então nós acreditaremos n’Ele!. Dostowevski comenta: Mas Cristo não podia descer da cruz, porque se ele fizesse este milagre, obrigava os chefes dos judeus a aceitarem a verdade que Ele era o Filho de Deus, o rei do Universo. Mas a verdade, tal como a fé e o amor, é um dom que tem de ser aceite livremente, que não deve ser imposta. a nossa fé e o nosso amor levam-nos a aceitar Jesus como o nosso rei, a quem amamos e servimos. Nem sempre é fácil. Estamos tão habituados a ver nos nossos dias reis tão diferentes de Cristo, numa competição furiosa contra o seu reinado: reis do futebol, rainhas de beleza, princesas das telenovelas, reis da economia… Diz o prefácio da missa da festa de Cristo Rei que o reino de Cristo é um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz. Só meditando nestas palavras se compreende quem é aquele que reina do trono da sua exaltação na cruz em que reconciliou e continua a reconciliar com Deus cada membro da humanidade, para que também nós reinemos um dia com Ele para sempre no Céu. a isso chegaremos escutando e pondo em prática as suas palavras.