“Quem acolher em meu nome uma criança como esta, acolhe-me a Mim”, afirma Jesus no evangelho de Marcos 9, 37, do XXV Domingo do tempo comum
“Quem acolher em meu nome uma criança como esta, acolhe-me a Mim”, afirma Jesus no evangelho de Marcos 9, 37, do XXV Domingo do tempo comumReza uma história que um senhor Coitado não tinha eira nem beira e andava assim a modos que aos trambolhões por este mundo de Cristo. Vestia umas calças cheias de remendos e buracos, usava um chapéu roto às três pancadas e vivia aqui e ali e acolá sem grandes preocupações. Dormia as suas noites e as suas sestas a sono solto e profundo em qualquer lugar se encontrasse. Tinha uma alma de criança e parava muitas vezes a admirar o cantarolar dos passarinhos, o marulhar suave dum regatozinho e muitas outras coisas do mesmo género que a Mãe Natureza lhe oferecia de graça.
Com o tempo e as crises das economias graúdas mundiais, produzidas em geral pela gosma descontrolada de grandes riquezas, foram-se as coisas tornando difíceis, e por vezes começou o senhor Coitado a passar fome. Deu então em rezar para que do alto Céu alguém lhe valesse. apiedou-se dele Deus e apareceu-lhe um dia. Trazia-lhe como presente dez maçãs grandes, muito encarnadinhas, e disse-lhe: Olha! Ouvi o teu pedido e trago-te aqui um presente, mas escuta bem o que te digo. Tens aqui dez maçãs, e vais fazer delas o que te vou dizer, nem mais nem menos: três maçãs, come-las, que bem precisas; vais-te sentir melhor. Três maçãs, vende-las; e com o dinheiro compras uma casita, pequena mas confortável, para te acoutares da chuva e do vento. Três maçãs, vende-las, também, e compras um fatinho jeitoso; vais parecer mesmo bem catita com ele. a décima maçã, não a comas, coloca-a bem à vista lá na tua casita. Essa maçã fica a ser para ti uma recordação do presente que Eu te dou. E pronto, agora já estás bem arrumadinho… . Dito isto, Deus desapareceu.
Fez o senhor Coitado o que lhe tinha sido pedido e tudo correu como lhe dissera Deus. Ou melhor, quase tudo. Muito satisfeito, já dentro da sua casinha, sentado à sua mesinha, deu ele em olhar muito para a décima maçã. Parecia-lhe que ela crescia a olhos vistos, a cor cada vez mais bonita. E vai, senão quando, deu-lhe vontade de comer a maçã. Lembrou-se do que lhe dissera o Senhor e resistiu por algum tempo à tentação. Mas, a um dado momento, produziu-se na sua cabeça um raciocínio: Ora Deus é muito rico. Deve por lá ter grandes pomares com todas as frutas, muitas macieiras, decerto! acho que não precisa desta maçã para nada. E foi-se à maçã e comeu-a. No local onde ela tinha estado, colocou o miolo da maçãzinha. Por sinal, não digeriu bem e sentiu um toque de azia no estômago bem nutrido. Naquela noite, a primeira que dormia numa cama fofinha, teve um pesadelo bem pesado, com o miolo da maçã a tornar-se bicho mau que parecia querer devorá-lo.
No evangelho de São Marcos diz-nos o Senhor Jesus que temos de nos esforçar por sermos simples e generosos como as crianças, como aquele senhor Coitado que tinha uma alma de criança antes de sucumbir à tentação. Diz-nos que, quando recebemos uma criança em Seu nome, é a Ele, o Senhor Deus, que nós recebemos. Mas, às vezes, as crianças grandes têm manias e teimosias maiores do que as crianças pequenas. E a generosidade delas enfeza-se sobremaneira. as verdadeiras crianças, grandes ou pequenas, essas sim, têm o coração vermelhinho de amor como as macias maçãs-dons que o Senhor nos dá. Por isso são elas capazes de ver as belezas simples e confortantes que a Mãe Natureza, governanta do Senhor do Céu e da Terra, põe continuamente à nossa disposição. ah, já me esquecia! as crianças, grandes ou pequenas, têm o coração grande e generoso, sempre a abarrotar de gratidão para com aquele que nos criou e nos ama gratuitamente, a nós e à Natureza. Foi isso mesmo que disse alguém: a gratidão é a flor mais linda que possa crescer no coração humano. Mas isso em geral acontece é àqueles que a Deus não dão só o miolo da própria vida, mas continuamente lha oferecem todinha e inteira, a sua vida, a Deus e ao próximo.