“Haveis de cumprir e pôr em prática os mandamentos do Senhor. Eles serão a vossa sabedoria e a vossa inteligência”, lê-se na primeira leitura do Deuteronómio
“Haveis de cumprir e pôr em prática os mandamentos do Senhor. Eles serão a vossa sabedoria e a vossa inteligência”, lê-se na primeira leitura do DeuteronómioQuantas vezes vimos irmãos e irmãs nossas na religião ocupados em práticas religiosas que talvez julguemos não muito segundo a verdadeira teologia! Gente que acende velas e as coloca diante de estátuas do Senhor, da Virgem ou dos santos! Pessoas que percorrem certas distâncias de joelhos para cumprir promessas ou simplesmente para fazerem penitência! Gente que usa escapulários mesmo por cima do vestuário, e várias outras coisas semelhantes! Talvez que a alguns de nós chegue violentamente a tentação de criticar tais actividades, ao menos cá por dentro, se é que não faltamos mesmo à caridade julgando essas pessoas, sem percebermos patavina do que se passa nos seus corações. De facto, quantos de nós, professores de teologia ou simples fiéis ou seres humanos, não teríamos acusado a tal senhora do evangelho que sofria dum abundante fluxo de sangue, de praticar um acto supersticioso ao tocar na franja da túnica de Jesus, pensando que isso a livraria da sua doença. Se tivéssemos um dedal de lógica, então deveríamos também criticar Jesus por aceitar uma acção tão anti-teológica e sem trambelho espiritual nenhum. E ainda por cima, mostrar Jesus uma ignorância banal ao chamar fé ao gesto dessa senhora! Mais ainda, ter tido a ousadia de a curar! Deus do Céu!
Pode realmente existir, às vezes, um problema religioso nestas atitudes. No evangelho de deste domingo, o Senhor Jesus critica os fariseus pelo grande número de gestos materiais que a tradição deles ensinava. Verdadeiramente, não eram os gestos que Jesus criticava, mas o facto que estes gestos não eram cumpridos e considerados como sinais de algo profundamente ligado ao Deus supremo. Eram gestos feitos como práticas dum culto meramente exterior. Deus quer adoradores em espírito e verdade, mas não idealistas que desprezam tudo o que é cá de baixo. Quantos gestos exteriores fez o Senhor Jesus para proclamar a todos a verdadeira religião do espírito que adora e proclama o seu louvor a Deus! até fez lodo com a sua saliva para curar um cego. Se os esposos acabam com as pequenas manifestações de amor, carinho e respeito um para com o outro e para com os filhos, mal lhe vai o matrimónio, já nada em águas chilras. acender uma vela para agradecer a intercessão da Virgem Santíssima, Mãe da Igreja e Mãe de cada um de nós, e ver nessa vela o símbolo da fé que recebemos como semente divina no Baptismo, não tem nada de supersticioso, pelo contrário mostra o sentido equilibrado que deve caracterizar o cristão que tem a alma no Senhor e os pés na terra. Continuamente ouço gente que, ao verem estes gestos religiosos exteriores, decidem não só acreditar no Senhor: agradecem também os sinais que lhes mostraram como se pode manifestar a fé em Deus e, também, na intercessão de Maria e todos os santos. Eliminar tudo o que mostra exteriormente a nossa religião, não será isso um verdadeiro farisaísmo egoísta?
Quando estes gestos religiosos são flores da planta da fé que cresce em nós, é também nesses gestos exteriores que mostramos o nosso empenho em traduzir em obras a comissão cristã que recebemos no Baptismo. Se é verdade, e bem parece que assim seja, que a gratidão é a flor mais bela que possa crescer no coração humano, porque não mostrar aos outros esse sentimento de gratidão que tão profundamente a Virgem Santa nos mostrou no seu canto de agradecimento e louvor a Deus, o Magnificat? Porque será que apertar a mão dum primeiro-ministro, dum graúdo do futebol, duma cantora ou duma actriz é coisa tão cobiçada, e tocar numa estátua da Virgem é considerado um descoco? Temos bandeiras e sinais de trânsito; alianças, brincos e amuletos; fardas, emblemas e galões, e milhões de outros sinais identificantes. Obrigado ao Senhor pelos sinais dos tempos, das estações do ano, das nuvens que nos dão a sombra ou nos oferecem a chuva. Obrigado àqueles e àquelas que não se envergonham de mostrar que Deus existe nesta nossa terra de Santa Maria. Bem hajam. Bem-aventurados! Ditosas! Batamos palmas!