“Eu sou o Pão vivo que desceu do Céu, diz o Senhor: quem comer deste Pão viverá eternamente”, lê-se no texto do Evangelho de João para o 19º Domingo
“Eu sou o Pão vivo que desceu do Céu, diz o Senhor: quem comer deste Pão viverá eternamente”, lê-se no texto do Evangelho de João para o 19º DomingoRecordo-me daqueles tempos maravilhosos da minha infância lá na terriola beirã onde nasci, onde pouco tinham entrado ainda os meandros da civilização que os bebés dos nossos dias já trazem quando vêm ao mundo. Dizia por lá toda gente que nós éramos uns bichos-do-mato. E bem dito, sim, senhores. Mas lá chegou o dia de irmos para a casinhola que era a escola primária da freguesia. a senhora professora lá ia tentando meter-nos na cachimónia os conhecimentos que fazem dum garoto e duma mocinha um homem e uma mulher de jeito. Ensinava-nos ela os mistérios que são o ler e escrever. Também aprendemos o Heróis do Mar, que cantávamos a 28 vozes (diferentes, claro). E depois havia a tabuada, que era um frete para a maior parte de nós. Somar: 2 e 2 dá 4, que até o são os evangelistas. Subtrair: 12 menos 2 dá 10, que até é o número dos Mandamentos da Lei de Deus. Dividir: 16 a dividir por 2 dá 8, que são as Bem-aventuranças. E finalmente, multiplicar, que nos dava tremeliques às vezes: como 3. 5 vezes 2 dá 7, que são os Sacramentos. a princípio a coisa não era lá muito fácil, mas consola-me o facto que, se me não engano, o senhor Einstein também ficou mal uma vez em matemática. Valha-o Deus.
Esticando talvez um pouco o raciocínio, vem isto a propósito do facto que de há uns domingos para cá os evangelhos nos vêm contando a obra admirável da multiplicação dos pães operada pelo Senhor Jesus e o discurso que Ele fez às gentes dessas terras em Cafarnaum, no dia depois. Os dois factos estão totalmente ligados um ao outro. aqueles milhares de pessoas que tinham sido saciadas pelos pães milagrosos vieram à procura de Jesus na aldeia de Cafarnaum. Cristo lamentou-se, dizendo-lhes que eles tinham, sim, comido dos pães e dos peixes, mas não tinham compreendido o significado do milagre.
O milagre, continuou Cristo, era o sinal de algo muito superior aos saborosos pãezinhos e peixinhos. O sinal, no dizer do Mestre, era que Ele, Jesus, Filho de Deus, era e é o verdadeiro Pão descido do Céu, o Pão enviado por Deus Pai para a salvação do mundo.
O Pão que, afirmou Ele, é verdadeiramente a sua carne que, comida e digerida espiritualmente, produz o seu fruto salvador e dá direito à ressurreição da carne.
aquela multiplicação dos pães era o sinal da multiplicação do corpo e sangue de Cristo operado na Eucaristia e recebido pelos seus fiéis.como um grão de trigo, semeado em boa terra, se multiplica e produz mesmo outros cem grãos, assim na consagração eucarística é multiplicado o Senhor Jesus e distribuído para a salvação de quem dignamente O recebe. É esta a primeira verdadeira multiplicação do pão usado na Eucaristia e transformado na consagração no próprio corpo, sangue e alma de Cristo unidos à sua divindade.
Para que esta multiplicação de Cristo produza o seu efeito completo, é necessário que cada fiel se torne um multiplicador de Cristo na vivência de cada dia. Multiplicar, oferecer o Senhor Jesus a todos os outros por meio das palavras e as obras de caridade, delicadeza e generosidade. Não só no lugar em que vivemos, mas por toda essa terra que Deus entendeu bem dar aos seus filhos e filhas, o mundo inteiro. Multiplicar a multiplicação dos pães operada por Cristo, partilhando o pão físico, intelectual, moral, psicológico e espiritual com os mais necessitados, aqueles que, aqui ou noutras zonas da terra, vivem uma vida sacrificada pelas muitas injustiças ainda engendradas por tantos egoísmos. Verdade verdadinha, muita gente, que nós conhecemos mesmo, praticam amiúde, com amor e carinho, as obras de misericórdia que Cristo revelará quando a humanidade inteira se encontrar no dia grande das Contas Finais (Mateus 25,31-46). Nesse dia, o mérito das boas obras feitas aos tantos cristos receberão o cêntuplo por um e a vida eterna por acréscimo (Mateus 25,40).
Recordo um pequeno facto da vida do Ti Marto, pai dos videntes Francisco e Jacinta de Fátima. Estava ele de cama com a gripe, quando o foi visitar um sacerdote. Conversaram, e ao fim o sacerdote despediu-se prometendo visitá-lo outra vez no dia seguinte. O Ti Marto chamou a esposa e pediu-lhe para lhe trazer a carteira. Tirou dela uma nota de vinte escudos e deu-a ao padre Pedro Mongiano para as missões, dizendo: Olhe, padre Pedro, há uma semana que estou aqui na cama, quer dizer, há uma semana que não dou esmola nenhuma a ninguém: uma semana sem valor nenhum na minha vida. Multiplicar Cristo, cada um na sua vida e na vida de muitos outros quer dizer que se compreendeu e se vive o sinal maravilhoso da multiplicação dos pães operada por Cristo, da multiplicação de Cristo na vida de cada dia.