“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá forme, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”, escreve o evangelista São João
“Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá forme, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”, escreve o evangelista São Joãoanacronicamente, há escravidões de que se gosta. Por exemplo, depois de terem saído do Egipto, no deserto os judeus murmuravam contra Moisés, afirmando que melhor teria sido para eles terem ficado nessa terra de escravidão que era o Egipto. É verdade que o homem, através dos tempos, incluindo a era em que vivemos, criou e cria, para si próprio e para os outros, dependências ou escravidões que parecem dar felicidade e prazer, pelo menos temporariamente. Mas, vastas vezes, tornam-se normas de vida inalienáveis para muita gente: escravidões políticas; consumo de drogas e álcool; leis que tornam difícil a vida dos mais pobres e necessitados; discriminações étnicas e religiosas; tendência a exagerar, na quantidade ou na qualidade, de comidas e bebidas; escravidões ideológicas; imposição a outrem de normas que destroem a liberdade; liberdades de expressão que são na realidade libertinagens que escandalizam o próximo. Já os judeus choravam no deserto pelas cebolas e os pratos de carne do Egipto, apesar de Deus os ter tirado da escravidão para lhes dar um país de liberdade e de lhes ter oferecido a comida especial do maná e das codornizes durante a viagem para a Palestina.
Mas, por vezes, não é fácil para o homem moderno ver que todas as qualidades boas de que goza, incluindo a inteligência e a liberdade, são dons que o Senhor Deus concede gratuitamente ao seu povo. E que todos estes bens são em si sinais da omnipotência e da bondade do Criador. além de dar ao homem o universo e tudo o que ele contém, Deus cumula todos estes bens com algo de maior que nunca ser humano algum poderia imaginar sequer: Deus dá-nos o seu próprio Filho, Jesus Cristo, como salvador e redentor de todas as escravidões. aceite por tantos, rejeitado por muitos, Ele é o sinal de contradição por excelência no meio da humanidade (Lucas 2,34). aceitá-lo na nossa vida e fazer da sua pessoa a norma do nosso conhecimento e das nossas acções – é isto a vida eterna, a vida que nada nem mais ninguém podem dar. Nas suas próprias palavras, é Ele, Jesus, o pão vivo que dá a vida ao mundo (João 6,48-52). E como bom pedagogo que é o Filho de Deus, faz Ele o seu discurso sobre o pão vivo que Ele é, depois de ter, pouco antes, saciado milhares de pessoas na obra da multiplicação dos pães. aceitar as suas palavras, diz Ele, é ter em si a vida eterna.comentava Santo agostinho: Da mesma maneira que Deus, com poucos grãos de trigo, multiplica no mundo as searas, assim Cristo multiplicou nas suas mãos os cinco pães para tirar a fome a milhares de pessoas. acção extraordinária que se torna sinal insofismável: Ele, Cristo, não é apenas um ser humano. Ele é o Verbo de Deus feito carne. Mas, continua Santo agostinho, o olhar da nossa fé tem de ser purificado para podermos sentir em nós o desejo de vermos espiritualmente que a obra da multiplicação dos pães prova que Cristo é o Verbo de Deus feito carne.
Espraiando os olhos da nossa inteligência e da nossa fé pelo mundo dos nossos dias, tornamo-nos testemunhas de como tantos homens, mulheres, jovens e crianças vêem para além do material. Descobrem no bem do mundo inteiro a mão bondosa de Deus. Todo o bem de Deus vem. E assim nós tornamo-nos, desde já, candidatos certos à plenitude da vida na casa do Pai.como diz Jesus no evangelho de hoje: Esta é a obra de Deus, acreditar naquele que Ele enviou, Jesus Cristo. Por isso, conclui São Paulo na segunda leitura: Deixai-vos renovar no mais íntimo do vosso espírito, vivendo como pessoa nova criada na justiça e na santidade, à imagem e semelhança de Deus (Efésios 4,23-24).