“Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco”, refere o evangelho de Marcos (6,31). São palavras de Jesus repassadas de ternura e carinho
“Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco”, refere o evangelho de Marcos (6,31). São palavras de Jesus repassadas de ternura e carinhoMuitas pessoas dos nossos dias, especialmente nas sociedades assim ditas mais desenvolvidas’, andam stressadas’ durante uma boa parte das suas vidas. Vivem com o elástico psíquico esticado ao máximo. Bem ou mal que tal seja, chegam continuamente ao nosso conhecimento as muitas calamidades que assolam a humanidade. Esta situação leva muitas pessoas à incapacidade de enfrentar calmamente toda uma série de problemas pessoais, de família, de grupo, tanto a nível nacional como mundial. Dizia um político durante a Segunda Guerra Mundial: O maior pecado das pessoas dos nossos tempos é que não pensam (Winston Churchill). Isto causa um falhanço, por vezes total, do sistema operativo pessoal que, em si, tem a capacidade de se refazer e de encontrar soluções para os seus problemas. Não pensar leva também à perda de valores humanos e espirituais que são preciosos para enfrentar situações difíceis. Pode então surgir mesmo na pessoa o desejo de não continuar a viver.
No evangelho de hoje, Cristo dá aos seus apóstolos a chave para a solução de muitos destes problemas. Tinha Ele enviado os seus discípulos para pregarem nas cidades e aldeias que Ele tencionava visitar. Os apóstolos voltaram, cansados, mas exultantes pelas maravilhas que através deles tinha Deus operado em muita gente. Cristo dirige-lhes o convite: Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto, e descansai um pouco. Descansar tinha dois significados na mente e no coração do Senhor Jesus. Sem dúvida, queria Ele dizer descansar fisicamente, relaxar a excitação produzida pelos muitos acontecimentos da viagem apostólica que tinham feito. Mas descansar’ ia muito mais longe. Tinha um significado muito mais profundo. Cristo queria que os apóstolos dialogassem com Ele sobre os acontecimentos que tinham vivido, para lhes explicar espiritualmente, divinamente’, o significado do que tinha acontecido nessa viagem apostólica.
O ser humano é um produto de Deus. Ele foi o seu arquitecto e engenheiro. Por isso, só Deus conhece perfeitamente todos os aspectos, qualidades e falhas do ser humano, a nível físico, psicológico e espiritual. Entregue a si próprio, sem digerir dentro do seu espírito o sentido da sua vida e dos acontecimentos – eis um programa perfeito que conduz em linha recta ao falhanço ou, ao menos, à falta de realização na vida. Sim, todos temos a tentação de nos desculparmos para, na nossa vida, não dialogarmos com Deus, com Cristo. Mas isto são desculpas de mau pagador’. De 1. 440 minutos de vida que Deus nos dá cada dia, não seria demasiado dar-lhe, a Ele e a nós, aquela meia horazita que tanto pode aperfeiçoar e acalmar a nossa existência. Se as sociedades e os indivíduos vivem aos tropeções, é também, e muito, por falta de contacto com o Deus criador e redentor, falta de contacto esta que corta a linha directa com o Espírito de Deus que é Senhor e dá a vida (Credo). Que dá sentido à vida. Sim, é verdade, o orgulho sugere algo de diferente, mas lá no fundo são sugestões não alheias ao egoísmo.
Estou pensando em Deus, canta o famoso padre Zézinho. Bem dito! E melhor ainda se bem feito. Sintonizemos o nosso íntimo com o coração de Cristo e aceitemos, em acção de graças, o seu convite: Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto (no interior da nossa consciência). E descansai um pouco. ali, com Ele, o diálogo será fácil e produtor de paz.