Passadas todas as estações da vida humana, resta-nos a Vida eterna
Passadas todas as estações da vida humana, resta-nos a Vida eternaFalando em primavera, logo nos ocorre a estação anual, espaço de tempo durante o qual a beleza da natureza desponta com toda a pujança, cor e odores que penetram em nosso ser. Também associamos a palavra primavera ao grau etário dos indivíduos, especialmente para designar aquele período que, enquanto jovens, detemos capacidades plenas e ainda sonhamos com um futuro promissor, o que apenas uma minoria consegue obter.
Hoje, eu desafio-vos a reflectir sobre essa primavera, a dos sonhos, mas como ideal de Vida. À medida que vamos caminhando ao longo do nosso percurso terreno, sentimos o peso das frustrações a par de algumas alegrias que porventura nos contemplam.
a dureza do dia a dia é uma constante, exactamente porque nos esquecemos que sonhar faz parte da vida e não utilizamos essa perspectiva positivamente. O sonho leva-nos a traçar objectivos que poderão servir para suavizar o presente e relançar a força interior que existe em cada um de nós, tendo o futuro como horizonte.
Não se trata de um fazer de conta, como nos contos para crianças, mas sim o idealizar um ou mais objectivos e lutar por eles até ao fim. Essa luta em prole da conquista de uma meta permite um agarrar à vida e simultaneamente criar esperança, mesmo quando não atingimos o que pretendemos.
a esperança de vida à nascença em Portugal ultrapassa agora os 75 anos nos homens e os 81 nas mulheres. O sector idoso, com idades de 65 anos e superiores, conta agora com mais de um milhão e meio de pessoas.
É especialmente para esses – porventura mais cépticos, dado o tempo vivido – que eu incentivo ao sonho, à procura e luta por objectivos que ainda não concretizaram. Sabemos que a sociedade tem tendência para penalizar e até desprezar, não aproveitando a experiência adquirida por estas pessoas, mas é necessário que sejam elas próprias a acreditar.
Vamos dar um exemplo: Manoel de Oliveira, um cineasta muito conceituado e que completou em Dezembro passado cem anos de vida. Certamente não teremos a veleidade de viver um século, mas será bom olhar para este Homem. Declarou recentemente que tem projectos para mais alguns filmes, apesar de já ter realizado uma média de um filme por ano.
O tempo de vida que teremos não será o mais importante, mas a forma como a vivemos. Procurar qualidade e conforto, é perfeitamente normal, mas será bom não esquecer que muitos outros nem sequer terão essa oportunidade.
Porque não criarmos o nosso projecto de vida ou associarmo-nos a outros existentes? Não esqueçamos que quando findar a nossa primavera da Vida, só contará a qualidade e quantidade de boas obras para servir de passaporte para a Primavera eterna.