“Do meio da nuvem luminosa soou uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-O»” (Marcos 9,7)… Disse Pedro: “Mestre, que bom é estarmos nós aqui!” (Marcos 9,5)
“Do meio da nuvem luminosa soou uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-O»” (Marcos 9,7)… Disse Pedro: “Mestre, que bom é estarmos nós aqui!” (Marcos 9,5)Uma das verdades mais profundas da nossa vida, a que não queremos renunciar aconteça o que acontecer, é a de filiação. Todos nós somos filhos ou filhas dos nossos pais. Mesmo que eles não tenham sido, nem sejam as pessoas mais inteligentes, mais ricas ou mais prendadas da terra e da história. É natural que todos nós sintamos orgulho em pertencermos à nossa família aqui na terra.
Na Palavra de Deus do Segundo Domingo da Quaresma, as três leituras falam de filiação. a primeira, do Livro do Génesis, apresenta-nos a figura daquele que consideramos nosso pai na fé, abraão, e a figura do seu único e tão suspirado filho Isaac. a segunda leitura, da Carta de São Paulo aos Romanos, fala-nos do Filho único de Deus, Jesus Cristo que, como nosso irmão e salvador, continuamente intercede por nós junto do Pai no Céu. O evangelho mostra-nos esse Filho único do Pai, que assumiu a nossa carne humana para nos salvar, na sua feição de Filho Unigénito de Deus. De facto, a voz do Céu proclama a toda a humanidade: Este (Jesus) é o meu Filho muito amado.
Nesta manifestação da filiação divina de Jesus Cristo, aparecem também os dois grandes pilares do antigo Testamento, Moisés e Elias que, segundo São Lucas, conversavam com Jesus acerca da sua morte em Jerusalém. a brancura e o brilho das vestes durante essa manifestação são símbolo da filiação divina de Jesus, o Senhor, e apontam já para a sua ressurreição.
Pode parecer um tanto contraditório, mas outra ideia muito importante da Palavra de Deus para este domingo é a de sacrifício. Deus pede a abraão que Lhe sacrifique o seu filho único, mas não deixará que Isaac seja sacrificado. Deus quer convencer abraão da necessidade de pôr toda a sua fé e confiança n’Ele. Na segunda leitura vemos como o amor de Deus por nós é tão grande que decide sacrificar o seu próprio Filho para que nós possamos todos tornar-nos seus verdadeiros filhos e filhas. No evangelho, este Jesus, cujo destino aqui na terra é a morte numa cruz, mostra-se-nos como verdadeiro Filho de Deus. E assim a Transfiguração deixa-nos ver qual é a natureza de Jesus: não só o que Ele será depois da sua ressurreição, mas o que ele já é e sempre foi: o IXΘΥ?, Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e Salvador.
Jesus, Homem-Deus-Salvador, apresenta-se-nos como retrato e modelo de todos os que n’Ele são inseridos no Baptismo: gente transfigurada pela graça, e chamada a participar cada dia na cruz para alcançar a vida divina de herdeiros de Deus na Terra Prometida do Céu. Dessa casa do Pai, Pedro dizia: Mestre, como é bom estarmos nós aqui!. Mais ainda, cada cristão é um Moisés, um Elias, um Pedro e um Paulo que, sempre e por toda a parte, passam a vida a proclamar a realeza do Filho de Deus e a nossa co-realeza de herdeiros de tudo quanto pertence ao Pai (cf. Lucas 15,31). Um cristão nunca o é realmente, se não for missionário como Jesus. Vocação sublime, a nossa: filhos-filhas adoptivos-adoptivas de Deus, herdeiros-herdeiras de tudo o que Lhe pertence, e todos-todas missionários-missionárias do seu amor à humanidade inteira.