“Eu sei que o meu redentor vive. Eu mesmo verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar!” (Job 19,25. 27). “Louvai o Senhor que cura os corações dilacerados” (Salmo 146,3)
“Eu sei que o meu redentor vive. Eu mesmo verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar!” (Job 19,25. 27). “Louvai o Senhor que cura os corações dilacerados” (Salmo 146,3)Uma das reacções possíveis ao lermos as páginas do Livro de Job é a do pessimismo. Não só um pessimismo que se refere às palavras desse livro da Bíblia, mas algo que conhecemos bem pela experiência da nossa própria vida, e também pelo que vemos à nossa volta nesta terra que o Senhor Deus criou para ser o berço da felicidade de todos os seres humanos.
Quantos sofrimentos em nós e à nossa volta! Sofrimentos físicos, como as doenças, as torturas sofridas por tantas pessoas perseguidas injustamente; sofrimentos psicológicos produzidos por ideologias destruidoras, que continuamente martelam os nossos ouvidos, a nossa mente e o nosso espírito, e que causam tantas vezes o desequilíbrio mental; os sofrimentos morais causados pelo pecado, o remorso, o uso errado das próprias qualidades, os efeitos do uso de substâncias nocivas, a solidão e, às vezes, o abandono dos melhores amigos; a insatisfação diante dos falhanços e dos problemas da nossa vida ou da sociedade em geral, passando pelos problemas da família, do desemprego, das aspirações falhadas.
Dá-nos vontade de concluir que ao ser humano dos nossos dias só interessam as soluções para aqui e para agora sem pensar no futuro, e que é na riqueza, na fama, em todo e qualquer prazer e no domínio sobre os outros que se encontra a felicidade. Ironicamente, mesmo o Sr. Camilo de Castelo Branco escreveu um livro intitulado Onde Está a Felicidade: a conclusão, ou ao menos uma delas: a felicidade encontra-se nas mil diversões que oferece o dinheiro.
Voltando à primeira leitura da Palavra de Deus deste 5º Domingo Comum: Depois de atravessar os túneis de sofrimentos atrozes, Job coloca a sua esperança na presença, na sua vida, do Redentor que ele, Job, verá um dia com os seus próprios olhos de carne (19,27). É esta a mensagem que o cristão tem de fazer sua e viver, experimentar, na sua própria carne e no seu espírito. Mas para o cristão, a Palavra de Deus que hoje nos invade, não é só um tesouro que se descobre e se goza a sós: é antes uma beatitude que é mister partilhar com os outros, tal como a quis Deus partilhar connosco no seu amado Filho.
Tão obrigatoriamente que Paulo confessa na 2a leitura: ai de mim se não evangelizar!, se não partilhar com os outros a Boa Nova. E assim, cada verdadeiro resgatado é aquele que ultrapassa as fronteiras do próprio comodismo e da própria felicidade e leva aos outros essa mesma fonte de esperança que Cristo pratica abundantemente no evangelho de hoje: Depois do sol-posto, Jesus curou muitas pessoas que sofriam de várias doenças e expulsou muitos demónios(Mc 1,34). E quando os discípulos querem retê-l’O na cidade de Cafarnaum, Jesus responde: Não, vamos às povoações vizinhas, afim de eu lá ir pregar também, pois para isso vim…
Todo este trabalho de libertação dos males da humanidade operado por Cristo e por nós é uma resposta às perguntas de Job e de cada membro sofrente da humanidade. E para cada um de nós, é palavra de honra sair de si próprio para ir levar aos outros os dons de Deus recebidos, pois os dons são para o bem da comunidade e não só para comodidade do indivíduo (ver 1 Cor 12,7).