“Nínive era uma cidade imensamente grande aos olhos de Deus…
“Nínive era uma cidade imensamente grande aos olhos de Deus… Deus viu como os ninivitas procederam para se afastarem do seu mau comportamento, e desistiu do castigo com que os ameaçara, e não lho aplicou (Jonas 3,3. 10) .
a primeira leitura deste 3º Domingo comum é tirada do Livro do Profeta Jonas. No trecho da história que hoje lemos e meditamos, são-nos apresentados vários protagonistas com visões da vida bastante diferentes: um, o profeta’ que não quer a salvação dum povo a quem é enviado por Deus, um povo que não pertence ao círculo dos eleitos’, dos da sua raça; temos em seguida um Deus que se proclama Senhor universal que a todas as suas criaturas oferece o amor do seu coração, sem discriminação racial ou de qualquer outra espécie. E temos um escritor, o autor do Livro de Jonas, que aceita e propõe a visão divina para com o mundo e o desejo divino de inserir na sua família todos os povos, pois todos n’Ele tiveram a sua origem, qualquer que seja a sua raça ou outras características.
Nesta história, o profeta’ Jonas é por Deus enviado a uma cidade enorme, Nínive, capital da assíria, uma cidade que provavelmente chegou a atingir uns três milhões de habitantes. É Jonas enviado a pregar aos ninivitas a conversão dos muitos pecados que ali se praticavam continuamente. Ofendido nos paradigmas da sua dogmática e das suas raizes histórico-e-sócio-culturais, o profeta recusa-se a ir a Nínive. Torna-se aqui a história dum humorismo saborosíssimo, se bem que patético por vezes. Recusa-se Jonas a ir a Nínive, mas apanha de Deus um valente puxão de orelhas ao ser engolido por um peixe enorme quando viajava de barco em direcção oposta a Nínive. Percebe então que o único tubo de escape para si é fazer o jogo de Deus e ir, contrafeito, à tal cidade pregar o que lhe mandara o Senhor. Mas sempre convencido que um Deus justo como o seu, nunca poderia perdoar a enormidade dos pecados dos ninivitas, ainda por cima estranhos ao verdadeiro Deus. Findo o seu fastidioso trabalho, vai Jonas sentar-se no cimo da colina donde se vê toda a cidade, para gozar o espectáculo da destruição que Deus faria daquela terra que vivia feliz nos braços pecadores de Satanás. aguça-se aqui o humor do autor e, claro, de Deus, o Deus que até fornece ao profeta uma espécie de sombrinha de praia para o proteger do sol estuante daquela terra escaldantemente pecadora. Mas, para descoroçoamento total de Jonas, Deus revela em plenitude a sua verdadeira identidade: Ele é o Deus da Vida, que nunca se deleitou com a morte do pecador. Os ninivitas reconhecem e confessam, por boca do seu rei, os seus pecados e fazem todos uma penitência segundo os desejos divinos: por isso são os seus pecados perdoados, o que causa uma apoplexia asfixiante aos fígados do profeta discriminante.
Revela-se aqui irrevogávelmente o fito da história: Sódoma e Gomorra pereceram, não porque pecaram, mas porque recusaram arrepender-se. Nínive é salva porque reconhece e confessa o seu pecado e dele se penitencia.
Felizmente, ou tragicamente, envolve-nos esta história na trama e na verdade contundente professada no livro de Jonas: quantos Jonas não existem nos nossos dias: nações, grupos, continentes e indivíduos que são Jonas na sua maneira de ver os outros e no modo como se comportam com eles. Indivíduos, talvez, e nações que são verdadeiras sanguessugas a beberem o sangue das fracas possessões de outras entidades mais pobres. Nem seria talvez descomedido dizer que em cada um de nós existe um profeta Jonas que se deleita em desejar e saborear o mal que acontece a outrem, e mesmo o desejo de vingança, explicito ou implícito, exterior ou interior, para com certas pessoas. Mas ao fim e ao cabo, da história de Jonas e Nínive vem-nos a certeza que Deus sempre se compraz no arrependimento dos nossos pecados porque Ele é um Deus de misericórdia e de perdão, de paz e de amor, mais ainda, é um Deus-amor que acaricia com o seu carinho divino todo e cada coração que O procura e para Ele dirige confiante os olhos da alma.