“ó vós todos que tendes sede, vinde às águas… , vinde e bebei” (Isaí­as 55,1)
“ó vós todos que tendes sede, vinde às águas… , vinde e bebei” (Isaí­as 55,1)No último dia da Festa das Tendas, Jesus, de pé, bradou: Quem tem sede venha a mim e beba… e hão-de correr de seu coração rios de água viva (João 7,37-39). E logo a seguir o evangelista explica: Jesus dizia isto referindo-se ao Espírito que iam receber os que n’Ele acreditassem.
Que interessante! Logo o segundo verso da Bíblia afirma: O espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas (Génesis 1,2); e a força e a vida do ser humano vêm desse Espírito de Deus (Gén 6,3). Outra maravilha! Quando no seio da mãe, a criança vive porque está imersa nas águas do seio da mãe, onde recebe alimento e oxigénio, sem os quais deixaria de viver. Se a vida natural do ser humano precisa da água, o mesmo acontece com a vida sobrenatural. Dizia Cristo a Nicodemos: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus (João 3,5). No Baptismo, o Espírito do Senhor é essa água vivificante que saiu do Coração de Cristo na cruz para gerar novos membros para a Igreja.
Celebramos hoje a Festa do Baptismo do Senhor nas águas do Rio Jordão. Vários povos dos tempos antigos celebravam uma cerimónia em que as pessoas se lavavam das suas impurezas legais e rituais. assim acontecia, por exemplo, na Babilónia, na Pérsia, no Egipto, na Índia, na Grécia… Entre os judeus, estas purificações com água eram obrigatórias: não só se purificavam as pessoas, mas inúmeros objectos usados por elas. Nas águas do Rio Jordão, João Baptista pregava e administrava um baptismo de penitência em que os baptizandos confessavam os seus pecados.
No primeiro milagre de Jesus, nas bodas de Caná da Galileia, temos de novo a água, ali presente para purificar as pessoas ritualmente. Essa mesma água é por Cristo transformada no vinho que dá às núpcias as ondas do regozijo da Nova aliança. E no último mandamento de Jesus aos seus apóstolos, de novo vemos a água como protagonista do milagre da salvação, a água símbolo e aliada do Espírito do Senhor: Ide, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (Mat 28,19). Os nossos pais e padrinhos obedeceram às ordens de Cristo, e assim nós entrámos no Reino de Deus.
Contava-me um dia o meu primo P. Carlos da Silva Pires que Deus tem, missionário da Consolata, que se recordava dum pormenor da cerimónia do seu Baptismo quando bebé:. Dizia-me ele: Sempre tive em mim a imagem nítida da minha madrinha do Baptismo ao levar-me ela em seus braços à pia baptismal. É uma graça que nunca esqueço.
No nosso Baptismo foi destruido o pecado original que nos habitava e fomos adoptados como filhos e herdeiros de Deus para ficarmos sempre com Ele e para que tudo o que é d’Ele seja também nosso (Luc 15,31). Fomos adoptados como filhos/as de Deus: que honra ser adoptado por um Rei, por uma Rainha! E isso, nós o somos de verdade. Fomos ungidos com o óleo santo que nos associou ao sacerdócio de todo o povo de Deus. Foi-nos imposta uma veste cândida, símbolo da beleza da imagem de Deus em nós. Foi-nos entregue, por intermédio dos nossos pais e padrinhos, uma vela acesa, símbolo da missão apostólica que nos foi confiada – uma responsabilidade que devemos pôr sempre em acção.
No Baptismo de Cristo, a voz do Pai ouviu-se do Céu dizendo: Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus o meu encanto (Luc 3,22). No nosso Baptismo foram dirigidas a cada um/a de nós essas mesmas palavras: Somos filhas/os muito amadas/os de Deus! Pena é que bastas vezes tal verdade more um tanto longe do nosso pensamento e da nossa acção
Sem exagerar podemos dizer que a Festa do Baptismo do Senhor (e nossa também) é a chave de oiro com que se fecha o ciclo litúrgico do Natal. a todos/as, um ano ainda novo cheio de luz e da vida divina que Deus partilhou e sempre partilha connosco.