O medo leva vários imigrantes “sem papéis” a utilizarem o mesmo documento da Segurança Social nos hospitais. as instituições preferem fechar os olhos a deixar de cuidar desta população
O medo leva vários imigrantes “sem papéis” a utilizarem o mesmo documento da Segurança Social nos hospitais. as instituições preferem fechar os olhos a deixar de cuidar desta populaçãoO hospital amadora-Sintra serve dois concelhos onde se encontram bairros degradados e com graves problemas sociais, propícios a esta situação. a alta comissária da Saúde, Maria do Céu Machado, que antes de assumir estas funções era directora clínica deste hospital, disse à agência Lusa que é frequente os imigrantes ilegais usarem documentos da Segurança Social de familiares e amigos.
apesar do acesso universal aos serviços de saúde, os imigrantes indocumentados têm medo de serem identificados. Recorrem tardiamente aos serviços, com resultados maus para a saúde, explicou Maria do Céu Machado. Raparigas grávidas chegavam ao hospital amadora-Sintra com o feto morto por hipertensão gravíssima devido a uma gravidez não vigiada. a situação é comum em outros hospitais.
Nos dez primeiros dias de Dezembro registaram-se 137 casos de utentes sem identificação no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. alguns por estarem em situação ilegal (24 por cento). O hospital Curry Cabral, em Lisboa, tem casos destes, que representam despesas de bastantes milhares de euros, explicou o presidente do Conselho de administração. Fazendo um retrato destas pessoas, Manuel Delgado disse que nem sempre são sem-abrigo. acrescenta: Às vezes são pessoas que trabalham, mas que se encontram numa situação formalmente ilegal.
Muitos imigrantes ilegais são acompanhados pelo Serviço de Jesuítas aos Refugiados (SJR), onde chegam muitas vezes com problemas de saúde, de sustentabilidade e sem documentos, contou à Lusa o director-geral, andré Jorge. a psicóloga Maria José Rebelo acrescentou que os exames de diagnóstico são caros e uma consulta custa entre 30 e 38 euros, uma quantia bastante elevada para quem está fragilizado a nível social.
a falta de meios económicos, o desemprego, a insegurança, a falta de suporte social e o sentimento de impotência na resolução de problemas estão directamente relacionados com altos níveis de stress psicológico entre a população imigrante. Desde Outubro do ano passado, 70 imigrantes receberam apoio psicológico SJR. a maioria eram mulheres, entre os 26 e os 45 anos, oriundas dos Países africanos de Língua Oficial Portuguesa (PaLOP).
a alta comissária da Saúde lembra que, em 2001, por despacho do então ministro da Saúde, antónio Correia de Campos, o acesso universal aos cuidados de saúde foi estendido a todos os que residam em Portugal por um período superior a 90 dias, qualquer que seja a nacionalidade (Despacho 25360/2001). apesar desta legislação inovadora e promotora de equidade, os estudos referidos apontam diferenças na morbilidade e mortalidade dos imigrantes, o que significa que o acesso universal não é suficiente para estas populações, explicou. Embora o despacho facilite a ida à urgência dos centros de saúde e hospitais de quem não tem documentos, estes imigrantes não podem ter médico atribuído nem inscrever-se no centro de saúde.