Não viviam das politiquices dos seus dias. Meditavam no seu í­ntimo profecias do antigo Testamento
Não viviam das politiquices dos seus dias. Meditavam no seu í­ntimo profecias do antigo TestamentoPreocupados pelo eclipse da estrela, perseveraram na esperança e na procura. Viram uma estrela e acreditaram no cumprimento duma promessa. Viram-se numa noite sem luz e procuraram quem reacendessse a sua esperança. Viram uma criança e nela adoraram a Deus. Bem considerado, tudo isto aponta para os Magos como gente que no sonho e no mistério procuraram e encontraram o sentido da vida.
O comportamento dos Reis Magos mostra-nos que eles tinham um interesse profundo na maneira como Deus guia o desenrolar da história da humanidade. Eram gente que não vivia simplesmente das politiquices dos seus dias. Para eles, o andar dos tempos não acontece simplesmente, mas obedece a uma ordem inteligente e consoladora, estabelecida por aquele que a tudo deu existência desde os primórdios da eternidade. Dizem tradições que os Reis Magos eram três, de nome Gaspar, Melquior e Baltasar. Meditavam no seu íntimo certas profecias do antigo Testamento como a de Micah (5,1-3) que referia Belém como lugar nascimento do Grande Chefe do Povo de Israel. Porventura conheciam o dito de Balaão: Oráculo do homem de olhar penetrante, que escuta a palavra de Deus, e conhece a sabedoria do altíssimo, e tem a visão do Omnipotente: Eu vejo, mas não para já; contemplo-o, mas ainda não próximo: Uma estrela surge de Jacob, e um ceptro se ergue de Israel… (Núm 24,15b-17b).
Vigiavam eles atentamente para descobrirem nos acontecimentos os sinais da vinda do Messias que ia restabelecer a união entre a criatura e o Criador. Viviam sempre atentos às epifanias ou manifestações de Deus. Tal era o seu estado de alerta que, ao verem a estrela nova, diferente, deixaram as suas famílias, as suas terras e as suas ocupações para viajarem, sem itinerário certo nem limite de tempo, à procura de algo que mais esperavam do que conheciam. Preocupados pelo eclipse da estrela, perseveraram na esperança e na procura. E ao verem de novo a estrela orientadora da sua pesquisa, sentiram um mega-encanto indescritível (Mat 2,10). Encontraram finalmente o objecto da prioridade da sua vida, o Messias prometido. Mas não partiram de casa de alforges e mãos vazias, estes três Magos, em cata da Verdade: levaram oferendas para o Real Menino Messias: oiro, incenso e mirra.
Oiro referia-se à dignidade de rei ou chefe, pois Cristo ia ser chefe de Israel e de todo o universo. Referia-se à alta virtude do Menino. Era também um dom que podia ajudar financeiramente a família do recém-nascido. O incenso era oferecido à dignidade de Deus no templo. Significava a qualidade de Cristo Sacerdote eterno que se oferecia a Deus como perfume suave de santidade e salvação. O incenso significava também o perfume da oração oferecida a Deus, como se mostra, por exemplo, no livro da Revelação (ex. , 8,3-4). a mirra era um ólio usado para embalsamar os corpos dos mortos para a sua preservação. Significava a oferta que Cristo, o servo sofredor de Isaías, faria a Deus da sua vida para a salvação do todo povo de Deus. Terminado o seu ministério junto do Menino Deus, voltaram os Magos às suas terras.
Terminara o seu ministério em Belém, começava agora o seu verdadeiro ministério nas suas terras de origem: proclamarem o que tinham visto, ouvido, tocado com o corpo e com o espírito. Desta forma se exprimia mais tarde o apóstolo São João Evangelista: O que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que as nossas mãos tocaram… é isso que vos anunciamos… para que a vossa alegria seja completa (1 João,1-4). Foi essa a vocação dos Reis Magos: ir, ver, ouvir, tocar no Deus feito homem, para depois partilharem tal dita com todos aqueles que cruzavam o caminho das suas vidas.
Escolhidos, chamados, enviados são também todos aqueles e aquelas que Deus tocou no Baptismo e ordenou missionários e pregadores por palavras e obras. Partilhar Cristo para que Cristo partilhe a sua alegria com todos os anunciadores do evangelho e com todos os que aceitam esse mesmo Cristo e esse mesmo evangelho como regra de vida. Cada baptizado é uma estrela a apontar o caminho que leva a Belém, que conduz a Cristo, Luz do mundo e Salvador da humanidade. Todo o cristão é um mago das promessas e um feiticeiro das realizações divinas que conduzem à glória dos eleitos junto ao altar do Cordeiro na Casa de Deus (cfr. apoc 22,1-5).