Todas as previsões para 2009 apontam para o agravamento da crise financeira, económica e social
Todas as previsões para 2009 apontam para o agravamento da crise financeira, económica e socialEm Portugal e no mundo, os pobres serão os mais afectados, por não terem defesas contra a deterioração das condições económicas. assim, será razoável ter esperanças no novo ano? Há, naturalmente, esperanças de que a crise não seja tão grave e tão prolongada como alguns receiam. Mas podemos e devemos alimentar uma esperança mais funda: a esperança de que a própria crise mude a nossa maneira de olhar para a sociedade.
Desde logo, uma mudança na valorização que fazemos dos bens materiais. Na origem desta crise esteve um excesso de crédito, que permitiu às pessoas (sobretudo nos Estados Unidos) consumirem desenfreadamente, acima dos seus recursos. Ora um choque como o que iremos atravessar pode contribuir para uma mais correcta percepção das proporções: a riqueza é um bem, sem dúvida, mas subordinado a bens maiores, como a solidariedade para com os outros.
Recordo que durante a segunda guerra mundial os britânicos passaram por inúmeras dificuldades materiais, a começar na alimentação. No entanto, foi um período que, depois, muitos recordaram com saudade: no meio dos bombardeamentos e da escassez, havia uma feliz sensação de entrega ao bem comum, de viver para os outros e não para si próprio.
a encíclica Centesimus annus fala da necessidade de alterar os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas de poder que hoje regem as sociedades. Ora as crises obrigam a pôr em causa muita coisa. Os anos de relativa prosperidade que o mundo rico viveu até agora não incitavam a ultrapassar os individualismos hedonistas e egoístas. afinal, a busca do prazer não trouxe a felicidade. Oxalá a presente crise nos abra os olhos e o coração para o que realmente é importante.
a preocupação com os mais pobres, a quem vão faltar (ainda mais!) os bens essenciais a uma vida digna, terá de ganhar uma nova prioridade com a crise. Não por acaso, o Papa Bento XVI dedicou a sua mensagem de 1 de Janeiro de 2009, Dia Mundial da Paz, ao tema Combater a pobreza, construir a paz. Nessa mensagem lembra palavras do seu antecessor, João Paulo II, que advertiu para a necessidade de abandonar a mentalidade que considera os pobres – pessoas e povos – como um fardo e como importunos maçadores, que pretendem consumir tudo o que os outros produziram.
Bento XVI alerta para a ilusão de que uma política de pura redistribuição da riqueza existente possa resolver o problema da pobreza de forma definitiva. Colocar os pobres em primeiro lugar implica muito mais do que isso: obriga a repensar os valores que efectivamente – e não apenas nas palavras – nos guiam. a crise ajudará a fazê-lo. Esta é a minha esperança para 2009.