a actual crise vem confirmar que o mundo já não é o que era. Nesta época em que tudo está em intensa mudança, uma só coisa resiste ao tempo: os nossos preconceitos
a actual crise vem confirmar que o mundo já não é o que era. Nesta época em que tudo está em intensa mudança, uma só coisa resiste ao tempo: os nossos preconceitos

Continuamos a repetir ideias antigas como se fossem verdades intocáveis, enquanto a realidade vive uma intensa transformação.
Um dos factos mais determinantes da situação actual, que muitos ignoram, é que há mais de dez anos o crescimento mundial é sustentado pelos países pobres. Em 2007, o produto mundial aumentou 4,6 por cento. Mas este nível respeitável só se mantém graças à excelente prestação das zonas do terceiro mundo, porque o número é uma média entre os 7,3 por cento dos países em desenvolvimento e 2,7 por cento dos países ricos. Se a taxa global fosse a da zona próspera o mundo sentir-se-ia em recessão. O que isto revela é que a estrutura mundial está em total remodelação. Nada do que sabemos em breve será verdade. Mas, além disso, existe uma
consequência que também passa despercebida: este tempo é aquele em que mais gente foi arrancada ao estado de pobreza. Nos últimos dez anos cerca de 500 milhões de pobres deixaram de o ser em todo o mundo, e isto depois de uma década em que assim se avançou mais. Não existiu em toda a história mundial um período comparável com tantos no combate à pobreza. a causa foi, não a ajuda oficial, revolução política ou inovações ideológicas, mas simplesmente a globalização. a opinião pública não tem essa sensação de ganho porque a nossa atenção está centrada na única zona do mundo que não participa na globalização.

a África subsariana é a região onde não há desenvolvimento nem se vê que venha a haver nos próximos tempos. a razão disto é fácil de identificar, porque o subdesenvolvimento tem uma explicação directa. O que é difícil de compreender é o progresso, não a estagnação. O propósito dos governos e elites africanas parece ser o roubo, guerra, corrupção e exploração das populações. assim não é possível o crescimento. até os sucessos africanos que todos os anos se verificam, rapidamente caiem em decadência.
a boa notícia é que esta situação, que antes era generalizada, hoje está localizada nesse continente mártir. No resto do mundo, da Ásia à américa Latina, com especial destaque para os gigantes da China e da Índia, o jogo económico e mercantil passou a estar na ordem do dia, com todos os defeitos, mas também vantagens para as populações.
a recente crise financeira desenrola-se nesse mundo em mutação. Foi a globalização que fez com que a turbulência financeira se espalhasse tão depressa. Mas é também o mesmo fenómeno que leva as economias ricas, feridas pela derrocada, a olhar com esperança para as regiões que costumavam ser pobres.
Este simples facto, que se tem tornado cada vez mais evidente para hoje ser esmagador, é a causa de a recente cimeira ser precisamente um G-20. Já vai longe a arrogância do G-7, onde um punhado de líderes achava que controlava o mundo.
Mas também desapareceram as contestações à globalização e a negação do sistema capitalista. anda tudo demasiado ocupado a aumentar a prosperidade, precisamente nas zonas mais desfavorecidas. Porque o mundo muda muito mais depressa do que as nossas ideias feitas.