17 anos depois do massacre do cemitério de Santa Cruz, ainda está por fazer a contabilidade dos mortos
17 anos depois do massacre do cemitério de Santa Cruz, ainda está por fazer a contabilidade dos mortos Repito aqui o que já disse em Díli em 1991: é melhor perguntar aos indonésios porque foram eles que mataram e foram eles que recolheram os corpos. até hoje, não sabemos exactamente quantos foram os mortos, os feridos e os desaparecidos, até porque nos meses seguintes os familiares não comunicavam que os filhos estavam desaparecidos com medo de represálias das autoridades indonésias , afirmou o arcebispo resignatário de Díli, em Estarreja.
Ximenes Belo considerou que o massacre de Santa Cruz foi decisivo para conseguir a independência. as vidas dos jovens massacrados no dia 12 de Novembro de 1991 serviram de trampolim para a continuação da luta e independência de jure e de facto de Timor-Leste.
O Prémio Nobel da Paz lembrou ainda que os jovens se prepararam espiritualmente para aquele dia. Muitos jovens foram comungar. Dois ou três dias antes do massacre as igrejas estavam cheias de jovens e muitos foram-se confessar e ficamos admirados com tanta afluência. Viemos a saber mais tarde que tinham combinado entre si confessar-se porque já sabiam que iam morrer e mais valia estarem preparados para morrer defendendo a pátria, do que morrer em pecado mortal , salientou
O relato daqueles momentos, contado na primeira pessoa: Vi chegar grupos de jovens em direcção à minha casa e ao princípio mandei fechar a porta mas eles gritavam que estavam feridos e a morrer. Mandei abrir a porta e eram 150 rapazes e raparigas que tinham vindo de Santa Cruz.
Depois dirigiu-se ao cemitério e viu um grande grupo de jovens, despidos da cinta para cima e com as mãos à cabeça, preparados para serem metidos nos camiões militares . Na noite de 12 de Novembro, segundo D. Xímenes Belo, a cidade ficou sem luz e foram praticados mais assassínios no hospital: Havia feridos graves que foram levados para a casa mortuária onde, com grandes pedregulhos lhes esmagavam a cabeça .
19 mortos e 90 feridos foi o número apontado pela Comissão indonésia para o massacre. Os resultados não foram credíveis e a pressão internacional levou a Indonésia a corrigir para 50 mortos e 90 feridos.