Fez-se história nos EUa. Mas agora, diz uma revista católica, é preciso cuidar de fazer da democracia um jogo de sorte. Onde o Presidente não engane quem o elegeu
Fez-se história nos EUa. Mas agora, diz uma revista católica, é preciso cuidar de fazer da democracia um jogo de sorte. Onde o Presidente não engane quem o elegeuBarack Obama foi eleito Presidente dos EUa, numa eleição histórica por vários motivos: um homem negro chega pela primeira vez ao mais alto cargo da nação americana e o acto eleitoral registou níveis altos de participação desde há pelo menos 100 anos, que reflectiu uma intensa campanha marcada por um aceso debate em torno das propostas dos candidatos.
Este debate foi também muito vivo entre a comunidade de crentes católicos. Cristão, foi apresentado como metodista-baptista não praticante, apesar do suposto anátema político lançado por adversários de que seria muçulmano – por causa do pai, islâmico de origem, mas também do próprio nome. Mas o que levou ao afastamento inicial de muitas franjas católicas foi a sua agenda política, em questões como a defesa da despenalização do aborto que, na perspectiva do agora Presidente, deve manter-se no quadro actual legal dos EUa. Em seu apoio, saíram muitos outros católicos, decisão sublinhada depois com a escolha de Joe Biden, senador do Delaware, e católico assumido, para vice-presidente de Obama.
Na revista católica on-line National Catholic Reporter, o debate nestes 21 meses de campanha foi duro. Os articulistas esgrimiram argumentos, mas foi ganhando corpo a tese de que não era legítimo, como maioritariamente fizeram os bispos americanos, colar o candidato republicano John McCain ao eleitorado católico por este defender a proibição do aborto – e assim ser pró-vida. Para muitos, o apoio de McCain a políticas sociais e económicas da administração Bush, bem como à guerra do Iraque, era profundamente contrário aos valores cristãos.
agora, na ressaca do acto eleitoral, o editorialista da revista lembra (com um alvo claro que é o Chefe de Estado ainda em funções, George W. Bush) que houve presidentes que prometeram a paz e fizeram a guerra, que defenderam a humildade e praticaram a arrogância, promoveram a moralidade e actuaram corruptamente.
É neste cenário, que o autor do editorial de National Catholic Reporter remata: a democracia é um jogo de azar. E deixa um voto, através do voto que foi exercido: Depositamos a nossa confiança num ser humano imperfeito e rezamos para que o nosso candidato vitorioso seja a encarnação em proporções correctas das virtudes da prudência e sabedoria, da caridade e coragem, da previsão e empatia, da razão certa e determinação.
a oração é clara, perante os desafios desenhados pelo artigo que esperam Barack Obama, quando em Janeiro assumir o poder na Casa Branca: O aquecimento global, que ameaça a criação de Deus; um orçamento militar fora de controlo; uma economia caminha para uma recessão; uma política energética dependente do Médio Oriente e construída sob recursos finitos e insubstituíveis; duas guerras pesadas, sem perspectivas de se resolverem em breve; a guerra ao terror’ que ameaça as liberdades do próprio país; uma comunidade internacional que espera pelos EU a para que estes se juntem a ela como parceiros; e uma política de imigração de que trata os estranhos entre nós como criminosos.
a lista é longa, desabafa ainda o editorialista, que deixa no entanto dois alertas: a necessidade do desarmamento nuclear e a especial obrigação dos católicos que apoiaram a campanha em responsabilizar a nova administração por políticas que reduzam o crescimento em um milhão de abortos que se realizam por ano neste país.