Mais de 10 anos após a morte do pintor Neves e Sousa, a sua obra «renasce» em edição de luxo de anacoreta Correia. O ex-deputado é admirador do retratista «da beleza e dignidade da mulher angolana»
Mais de 10 anos após a morte do pintor Neves e Sousa, a sua obra «renasce» em edição de luxo de anacoreta Correia. O ex-deputado é admirador do retratista «da beleza e dignidade da mulher angolana»Dei-me conta de que quem tinha menos de 50 anos e não tinha quadros do Neves e Sousa em casa de alguém de família desconhecia completamente a obra dele, e pensei que era preciso fazê-la reviver, disse à agência Lusa Miguel anacoreta Correia. O ex-deputado coordenou a edição de Neves e Sousa: Pintor de angola (1921-1995) , que foi ontem, 25 de Outubro, apresentada na Galeria Verney, em Oeiras.
a obra, editada pela Sextante, inclui mais de 150 reproduções de quadros do pintor natural de Matosinhos. aluno premiado da Escola Superior de Belas artes do Porto, Neves e Sousa, que também foi poeta, cresceu e conheceu o sucesso em angola, acabando por falecer em Salvador, Brasil, onde se fixou em 1975. anacoreta Correia destaca o conhecimento profundo de angola do pintor, resultante de viagens a pé pelo mato, onde tirava apontamentos para os seus quadros. No estúdio pintava, recriando as formas, as cores, a expressão das áreas e comunidades mais remotas da então colónia portuguesa.
O espólio do pintor é de cerca de 6. 000 esboços, alguns de grande qualidade, e perto de 1. 500 aguarelas pintadas no terreno. ao abrigo de um recente acordo com a viúva do pintor, este legado vai passar a estar a cargo da Câmara Municipal de Oeiras. O acordo prevê um mínimo de duas exposições anuais, a primeira dos quais já em Novembro.
Os quadros de Neves de Sousa estão hoje espalhados um pouco por todo o mundo lusófono.como é natural, muitos dos quadros fotografados para esta edição encontram-se em angola, onde deixou também trabalhos marcantes enquanto artista gráfico, decorador e até artista filatélico. Para muitos conhecedores do seu trabalho, a sua obra-prima é um painel em grafite com 345 metros quadrados no aeroporto de Luanda, que representa todas s etnias de angola.
Segundo anacoreta Correia, ele próprio crescido no país africano, o livro está a ser recebido com interesse em angola. Hoje, os angolanos têm uma perspectiva de olhar para o futuro, mais do que para o passado, e mesmo as pessoas que foram adversárias [de Neves e Sousa] reconhecem unanimemente o seu talento, afirma. Retratou a beleza e a dignidade da mulher africana como ninguém, além de algumas paisagens sublimes, frisa o coordenador da obra.
Com uma tiragem inicial de 3. 000 exemplares, a obra chega às livrarias portuguesas na próxima semana. anacoreta Correia afirma agora esperar que a obra possa ser cruzada com trabalhos antropológicos e etnográficos, como o de José Redinha, grande etnógrafo angolano, cuja obra é mal conhecida. Numa altura em que a economia tem o palco das relações luso-angolanas, o ex-deputado assume o objectivo de equilibrar a balança para o lado cultural. Por isso mesmo temos de dar um contributo, é essa a razão porque me lancei na publicação, é preciso compensar, defende.