Eugénio da Fonseca, Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado

Um dos maiores dramas do nosso tempo, são as desigualdades sociais e as de outras naturezas. Referem-se mais as sociais pelas suas consequências serem mais visíveis e de efeitos imediatos. Na base deste tipo de desigualdades está, sobretudo, a pecaminosa destruição da riqueza existente, ou seja, a recusa do princípio fundamental do Pensamento Social Cristão que é o do “Destino Universal dos Bens”. Estas desigualdades têm expressões na vida pessoal e coletiva muito dramáticas. Lembro apenas as que têm maior impacto no que diz respeito ao acesso: a um ensino escolar integrador e não “meritocracista,” que conjugue ensino com educação para que se evitem gerações de jovens designados como: “Nem Nem” ̶  ou seja, Nem estudam, Nem trabalham Nem têm outra qualquer ocupação; ou então encontram-se sujeitos a um trabalho cada vez mais escasso e mal remunerado. Em Portugal existe uma infâmia social que é a de existirem trabalhadores pobres; sem acesso aos cuidados básicos de saúde, tais como as consultas e exames de diagnósticos atempados, o que leva a doenças que poderiam ser curáveis, se assistidas a tempo e, não o sendo, passam a ser mortais; falta-lhes habitação digna que é inacessível a quem só disponha de rendimentos médios. A designada “bolha de endividamento imobiliária” onde estão preços de arrendamento inacreditáveis e a opção pelos designados Bairros Sociais que nunca deixarão de ser “guetos” dentro das cidades; o endividamento a particulares e a Bancos para se conseguir ter bens essenciais; o abismo existente entre as exigências impostas pelas novas tecnologias e a vasta iliteracia digital… Todos estes problemas sociais e económicos levam à situação de pobreza e de exclusão social. Trata-se de uma violação dos Direitos Humanos.

Dada a complexidade que resulta do entrelaçamento de todos os fatores que estão na sua origem, obrigam a uma solução a curto prazo que é muito exigente a não ser a já, amplamente difundida, como seja a da componente assistencial. Mas uma nova civilização se impõe, assente em valores, até agora, renegados que levem à conjugação do “nós” e não do apenas “eu”. Esta é uma questão educacional. Um novo modelo económico mais centrado na pessoa que nos dividendos, o que resultaria na dignificação do trabalho e do salário e no findar dos maléficos Offshores. A construção de uma arquitetura tributária mais justa. Na assunção da política, tendo em conta que trata da defesa da pólis (cidade), como uma obrigação de todos e todas e os que assumem responsabilidades mais exigentes façam-no com maior sentido do bem comum. Que impere uma disponibilidade para a distribuição dos poderes existentes. Aqui, existe o maior obstáculo; mais difícil que distribuir a riqueza, é fazê-lo com o poder que se detém.

A Igreja é a maior instância que mais contributos pode dar pela implementação de valores humanos e cristãos que lhe são intrínsecos para a criação de uma nova civilização. A Igreja tem nas suas mãos a possibilidade de criar um “humanismo novo”. Estamos no mês de maio em que os campos estão mais floridos. Os cristãos estão ainda embebidos na força que brotou da celebração da Ressurreição de Jesus e, dedicam, este mês, a uma maior devoção à Mãe de Deus, sob o título de Senhora de Fátima. Então, comprometamo-nos a embelezar o mundo com cores diferentes, que representem diversidades, mas não diferenças excludentes. Os cristãos, seguindo o exemplo de Maria, se esforcem por serem forças ressuscitadoras de um mundo velho para um novo mundo.