Ilustração: David Oliveira

José Ettorri nasceu em 1949 nos arredores de Viterbo, cidade italiana com especial significado para os portugueses por ter sido nela que residiu durante o seu curto pontificado o Papa João XXI, sumo pontífice natural de Lisboa, também conhecido como Pedro Hispano. Aos sete anos de idade José emigra com a família para o Quénia e aí conhece os missionários da Consolata, que o acompanham na catequese, primeira comunhão e crisma. O desejo dele, de um dia ser missionário, nasce quando estava em Nairobi. Regressa a Itália para os estudos secundários, no fim dos quais escreve: “Sinto-me feliz porque agora terminado o liceu posso decidir com maior liberdade o meu futuro e, pela minha parte, estou decidido a ingressar no Instituto Missionário da Consolata”.

Seminarista generoso e aplicado, durante o curso de teologia inicia também a especialização em Sagrada Liturgia, seguida mais tarde pelo doutoramento em teologia bíblica. Dir-se-ia que com estas credenciais o jovem missionário estava destinado a ser um ótimo estudioso, escritor e professor, mas tal não aconteceu. Professor sim, durante vários anos, e também investigador, mas, acima de tudo, pastor de almas, homem dedicado ao apostolado paroquial e à preparação de leigos capazes de guiar e formar o povo de Deus no país já seu conhecido – o Quénia – para onde fora enviado. Alternou o trabalho pastoral entre o povo simples com o ensinamento da Sagrada Liturgia a nível universitário. Também eu, Tobias Oliveira, autor desta rubrica, tive nesses anos a oportunidade de lidar com ele, e recordo bem a sua determinação em pôr toda a sua ciência e arte ao serviço da gente do povo e não só dos estudantes universitários. Dar-se todo a todos era o seu modo de ser um santo e verdadeiro missionário.

Além dos seus dotes para o ensino e para o apostolado, José Ettorri era também um especialista nas artes gráficas e um mago do computador, coisa que nesses tempos era ainda uma raridade. Idealizou e publicou livrinhos de catequese e formação litúrgica na língua swahili, ampliando assim o alcance da sua ação evangelizadora. Estamos certos que teria continuado com esse seu triplo empenho de professor, pastor de almas e editor se a saúde o não traísse, sendo em 2009 transferido para Itália onde trabalhou ainda um ano, mas sentia-se fraco e confessava – “Desde que voltei de África não me sinto muito bem de saúde. Sei que algo em mim não está a funcionar”. Era uma leucemia crónica que lentamente o estava a minar e que no início de 2010 se agudizou. Em poucos dias, a situação agravou-se e o padre José pôde celebrar a sua liturgia celeste dia 23 de fevereiro. Demos graças a Deus.

Texto: Tobias Oliveira