O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) está preocupado com a situação de milhares de pessoas que estão a fugir dos ataques armados na região norte da província moçambicana de Cabo Delgado e a procurar abrigo na cidade de Pemba, ficando expostas ao risco de infeção pelo novo coronavírus.

“As pessoas trocam o perigo do conflito armado pelo risco da Covid-19. Chegam a Pemba exaustas e traumatizadas após deixarem as suas casas e praticamente todos os seus pertences para trás”, relata, em comunicado, o Chefe de Operações do CICV em Pemba, Raoul Bittel.

Segundo o responsável, a cidade é neste momento um dos epicentros da pandemia mais preocupante em Moçambique, o que faz aumentar o risco de contágio. “A maioria dos deslocados encontra abrigo com familiares, o que representa uma carga adicional para eles e agrava as condições de superlotação que favorecem a propagação da doença, já que o distanciamento físico se torna impossível”, esclarece o operacional.

O novo centro de tratamento criado pela instituição humanitária pretende ajudar a comunidade local a responder à crise sanitária, mas sem a neutralização dos responsáveis pelos ataques torna-se difícil que os deslocados possam regressar à normalidade. “As famílias não poderão voltar enquanto houver combates próximo das suas casas”, alerta Raoul Bittel.

Recorde-se que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, se deslocou a Pemba no passado dia 31 de agosto, para reunir com o bispo diocesano, Luís Fernando Lisboa, depois de duas semanas de tensão crescente entre a Igreja Católica e o Estado. No final do encontro, o Chefe de Estado manifestou-se satisfeito com o diálogo e a troca de informações e o prelado disse que as conversações tinham sido “ricas” e “frutíferas”.