Ilustração: David Oliveira

Em dezembro de 2019, com 90 anos de idade, o padre Francisco Pavese escrevia: “Se pelo Natal já estiver no paraíso, sentir-me-ei feliz. Do céu abençoarei familiares, confrades e irmãs missionárias, amigos e conhecidos, todos!” Quem era, afinal, este gigante do bem-fazer, este distribuidor de bênçãos? Nascido a 4 de abril de 1930 no norte de Itália, aos 18 anos, quando era já seminarista diocesano, descobre que Jesus o chama a ser missionário. Entra no Instituto Missionário da Consolata, e daí por diante a sua caminhada transforma-se numa corrida com o único intuito de fazer o bem, sempre o bem, só o bem, para que Jesus seja conhecido, servido e amado até aos confins da terra.

Depois da ordenação sacerdotal em 1955, quer partir para as missões, mas os seus excelentes dotes intelectuais, assim como a sua ciência e prudência para guiar, ensinar e formar futuros missionários são demasiado evidentes para não chamarem a atenção dos superiores que lhe propõem que seja missionário permanecendo na Itália. Aceita com humildade e disponibilidade esta decisão que o amargura, mas muitos anos mais tarde escreverá com alegria: “O projeto de Deus sobre mim era muito maior do que o meu projeto pessoal e, por isso, o apreciei e aceitei sem recriminações”. Esta é uma afirmação que define a sua vida e que nos pode guiar também a nós para aceitarmos o projeto de Deus a nosso respeito, embora, talvez, o achemos bem diferente do nosso. Qual era então esse projeto de Deus? Servir a causa missionária a partir da Itália, especialmente de Roma, onde durante 16 anos foi reitor de dois centros missionários da Igreja universal pelos quais passaram nesse período mais de mil sacerdotes e seminaristas oriundos de todos os países de missão. O padre Francisco pôde assim ser formador de missionários, não só para o seu Instituto da Consolata, mas sim para toda a Igreja, e realizar em pleno o seu ideal apostólico. Sem ir às missões foi missionário no superlativo.

Além de outros cargos, foi superior regional dos missionários da Consolata na Itália durante seis anos, promotor da causa de beatificação do bem-aventurado José Allamano durante dez anos, consultor do dicastério romano para a evangelização dos povos, e membro do Conselho Presbiteral da diocese de Roma. O livro do Apocalipse termina com as palavras “Vem, Senhor Jesus”, e o padre Francisco Pavese, ao terminar a sua viagem terrena escrevia: “Se ele viesse hoje para me levar, eu ficaria feliz. Vivi intensamente a minha bela vocação”. O Senhor escolheu para o desejado e feliz encontro o dia 3 de maio de 2020, domingo do Bom Pastor.

Texto: Tobias Oliveira