Foto: Paulo Novais / Lusa

O encontro de Cristo com um leproso foi o ponto de partida para Carlos Cabecinhas, sacerdote e reitor no Santuário de Fátima, lembrar que o sofrimento também pode levar ao isolamento. “Na pessoa daquele leproso […] temos a imagem da experiência de sofrimento que, hoje, muitas pessoas fazem. A experiência de um sofrimento que não é apenas físico, não é apenas o sofrimento provocado diretamente pela doença: é também a solidão, o desespero, o isolamento, que embora não signifique exclusão, é frequentemente sentido como tal”, disse o religioso, dando o exemplo do grupo de risco à Covid-19.

“Olhemos para as vítimas desta pandemia, concretamente para os mais idosos, isolados e que sentem essa solidão, ou para os seus familiares impossibilitados de ir ao encontro, de ajudar, de consolar e de animar”, exemplificou o responsável. “A pandemia […] obriga-nos a distanciarmo-nos, a isolarmo-nos, para nos protegermos e protegermos os que nos cercam. E apesar de compreendermos a necessidade destas medidas de prudência e de cuidado, não deixamos de sofrer com isso”, referiu Calos Cabecinhas, adiantando que os cristãos devem ver no atual período uma ocasião para “se confiarem a Jesus” e para serem “instrumentos através dos quais Jesus continue a tocar e a curar”.

“Não somos apenas convidados a confiarmos mais em Jesus Cristo: somos igualmente desafiados a imitar a sua atitude de atenção ao sofrimento dos outros”, disse o reitor do templo mariano, acrescentando que a “compaixão diante das dificuldades dos outros, o acolhimento sincero e a ajuda concreta nos momentos difíceis fazem ‘milagres’ e permitem que Cristo continue hoje a fazer milagres por nosso intermédio”.

Carlos Cabecinhas explicou que “não se trata de realizar ações grandiosas”, mas que é nos “pequenos ‘nadas’ do nosso dia a dia, na atenção concreta e escuta de alguém, na partilha singela com quem precisa, que somos desafiados a imitar a atitude de Jesus que diante do sofrimento se compadece”. O religioso deu depois o exemplo de Santa Jacinta Marto, que faleceu a 20 de fevereiro de 1920, vítima da gripe espanhola, e que perante o sofrimento, nunca deixou de se preocupar com os outros.

Segundo o reitor do templo da Cova da Iria, “a Palavra de Deus deixa-nos uma mensagem de esperança. Mostra-nos que Jesus Cristo continua a vir, hoje, ao nosso encontro, a olhar compadecido para as nossas fragilidades, assegurando-nos que não estamos sozinhos no sofrimento. Continua a vir ao nosso encontro com gestos de ternura e compaixão, que fortalecem a nossa confiança, que alimentam a nossa esperança. Por isso, a Palavra de Deus diz-nos que não estamos condenados ao desespero, pois Deus não nos abandona e o Seu amor é sempre maior que a nossa fragilidade”.

As palavras de Carlos Cabecinhas, citadas pelos serviços de comunicação do Santuário de Fátima, foram proferidas na Eucaristia que teve lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na manhã do último domingo, 14 de fevereiro. Devido à atual pandemia, a celebração decorreu sem a presença física de fiéis. A celebração foi transmitida em diversas plataformas digitais. Segundo a sala de imprensa do Santuário de Fátima, a celebração contou “com a participação de mais de seis mil peregrinos virtuais”.