Ilustração: David Oliveira

José Argese nasceu em Martina Franca, no sul da Itália, em 1932. Viveu como criança e adolescente a tragédia da II Guerra Mundial e é possível que esse seu primeiro contacto com a miséria humana o tenha ajudado a afinar a sua sensibilidade para com os necessitados. Aos 18 anos decide que quer ser missionário como consagrado mas não como sacerdote, e é aceite como aspirante a irmão coadjutor entre os missionários da Consolata.

Em 1957 é destinado ao Quénia onde se dedica à construção de igrejas, capelas, centros de saúde e escolas na zona de Meru, que se tinha tornado diocese apenas quatro anos antes. Mesmo nestes trabalhos materiais a sua principal preocupação como missionário era acudir aos mais necessitados por todos os meios ao seu alcance. Um dia um sacerdote seu confrade desafiou-o a encontrar água para a missão de Tuuru onde esse missionário acolhia crianças poliomielíticas, espasmódicas e abandonadas. Argese olhou para a montanha  de Nyambene que se encontrava a uma dezena de quilómetros de distância e comentou: “Na montanha talvez haja água, mas se houver, ela encontra-se na encosta oposta, do lado virado para o mar; deste lado não há ribeiro nem riacho nem nenhuma nascente; em todo o caso vou ver”. Foi a partir desse “vou ver” que nasceu e se desenvolveu o grande “Projeto da água para Tuuru” que, pensado inicialmente como solução para a sobrevivência de algumas crianças deficientes, depressa se foi ampliando até aos atuais 270 quilómetros de condutas para saciar a sede a povoações vizinhas e distantes cujos habitantes chegavam a fazer 20 quilómetros por dia para recolher alguns litros de água e assim acudir às necessidades primárias das suas famílias.

Em outubro de 2008, depois de 55 anos de vida missionária, o irmão José, a quem os habitantes locais chamavam Mukiri (O silencioso), escrevia ao superior geral dos Missionários da Consolata e confiava-lhe que a oração era o segredo de todos os seus trabalhos e canseiras. “À noite, quando por uma hora na igreja medito em silêncio perante o tabernáculo e rezo, passa-me todo o cansaço e estou novamente pronto para combater pela paz e pela justiça. Só rezando é que se pode construir a promoção humana e a paz. Se algumas vezes me descuido e deixo passar a oração, crio sofrimento para mim mesmo e para os outros”.

O irmão José Argese jaz agora na paz do Senhor bem perto do tanque principal por onde passa esse manancial que sacia a sede de todo um povo. Aquele Jesus que perante uma multidão esfomeada disse aos apóstolos “Dai-lhes vós de comer”, é o mesmo que inspirou o irmão José a dar-lhes de beber.

Texto: Tobias Oliveira