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A guerra na Ucrânia desencadeou uma onda de solidariedade na Europa e no mundo sem precedentes. Instituições públicas, particulares, organizações e cidadãos mobilizaram-se para oferecer bens de primeira necessidade e transportar todas as pessoas que puderam fugir. Em poucas semanas, assistimos ao êxodo de milhões de mulheres, crianças e idosos, deixando para trás habitações, bens pessoais e empregos. Viram-se forçados a transportar pouco mais do que aquilo que era possível carregar.

Em Portugal, a Câmara Municipal da Maia (CMM), à semelhança de outras, sentiu o apelo deste drama humanitário, sempre crescente e descontrolado, e que acabou por chegar até à Fundação Allamano (FA), uma instituição dos Missionários da Consolata dedicada aos mais vulneráveis, com instalações naquele concelho do norte de Portugal.

Poucos dias depois de ter visitado a FA e ter verificado o trabalho aí desenvolvido junto dos migrantes, em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), Emília Santos, vice-presidente da CMM, convidou Ana Correia, assistente social da FA, para a equipa “Sorrisos de esperança – Missão solidariedade com a Ucrânia”. A 11 de março partiram com diversos bens doados, e no dia 18 regressaram com 55 pessoas, na sua grande maioria familiares de outros cidadãos ucranianos a residir no concelho da Maia.

A Fundação Allamano, com o especial apoio da comunidade dos missionários da Consolata de Águas Santas, decidiu acolher temporariamente quatro famílias, entre as quais se encontram um bebé com um ano, quatro crianças entre os 4 e os 12 anos, dois jovens menores e dez adultos. Para além dos quartos disponibilizados pelos missionários, foi necessário equipar uma cozinha e criar um espaço de convívio, exclusivo e adaptado a todas as idades. Em menos de uma semana, com a generosa disponibilidade da equipa de funcionários e alguns voluntários, e com o apoio de algumas pessoas e empresas, foi possível receber condignamente estes novos amigos.

A dificuldade da comunicação é superada pela linguagem dos afetos! Através da atitude consoladora e de pequenos gestos, demonstramos o carinho e o respeito, a bondade e o altruísmo, que sentimos reconhecidos nos seus rostos, num olhar meigo e num sorriso (da tristeza) disfarçado. A primeira palavra portuguesa que ouvimos das suas bocas foi “Obrigado!”

O seu exemplo de cidadania surpreende-nos diariamente. São pessoas humildes, resilientes, dispostas a superar todas as dificuldades, proativas no estudo da língua portuguesa, autónomas e dispostas a lutar por uma vida feliz e em paz. Há maridos, pais e filhos que ficaram a defender o que é seu por direito – a sua terra, a sua pátria. Deste lado, esposas e filhos assumem com responsabilidade e determinação a gestão familiar, demonstrando que vale a pena lutar pela justiça e pela liberdade.

Texto: José Miranda, membro da direção da Fundação Allamano