Foto: Ana Paula

Há anos marcantes. O ano de 2021 não terminou sem que antes tivesse sido significativo para Augusto Faustino. Na reta final do passado mês de novembro, o jovem de 29 anos fez a profissão dos votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência, no Bairro do Zambujal, na Amadora, e apenas uma semana depois, a 28 de novembro, foi ordenado diácono, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, durante uma celebração presidida por Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa.

“Algumas horas antes da minha profissão perpétua senti uma forte emoção e começaram a cair as lágrimas. Rezei para que o Senhor me iluminasse neste grande compromisso que estava para assumir ao serviço da missão e da Igreja. A minha consagração religiosa tem a sua razão de ser enquanto me colocar ao serviço dos outros e da Igreja. Estes dois momentos que celebrei não são apenas uma chegada, mas um ponto de partida em que todas as minhas energias e forças serão dirigidas para a minha nova missão, que é servir e estar com os outros. Este serviço não é temporário, mas é para toda a vida, em qualquer lugar onde eu estiver. Senti-me realmente preparado e pronto para assumir este compromisso que a Igreja me confiou. Devo ser um missionário da Consolata na totalidade, para que seja uma fonte de inspiração para todas as pessoas que encontrarei”, disse o jovem.

Estes dois momentos, cheios de significado para Augusto Faustino, começaram a desenhar-se longe de Portugal. “Nasci em Mecanhelas, em Moçambique, onde conheci os Missionários da Consolata. Na escola secundária comecei a alimentar a primeira ideia ser sacerdote, de seguir a vocação religiosa, que foi crescendo. Mais tarde descobri que ser sacerdote e missionário eram coisas que até podiam estar juntas e decidi entrar nos Missionários da Consolata.”

O seu percurso formativo levou-o a deixar Mecanhelas e a passar por Nampula, Maputo, Sagana (Quénia), Itália e Portugal. Frequentou o seminário, aprendeu inglês, fez o noviciado, estudou filosofia, fez a sua primeira profissão religiosa, estudou também teologia e fez um ano de serviço no Bairro do Zambujal, na Amadora, onde chegou em dezembro de 2020. Depois de deixar a sua terra natal, Augusto conta que foi “conhecendo novas pessoas e culturas”, o que considera ter contribuído para o seu “crescimento vocacional e humano”.

A chegada ao continente europeu colocou o jovem perante uma situação que não esperava encontrar. “Nunca tinha pensado que na Europa houvesse uma situação assim. Em Roma tinha já contactado com um bairro social, antes de chegar a Portugal. Fiquei sem perceber como é que é possível numa cidade como Roma ter gente a viver naquela situação – pessoas com dificuldades para ter alojamento, estão desempregadas, sem salário. São pessoas que precisam de tudo e que estão lá isoladas, numa cidade onde, talvez, a sociedade seja capaz de ajudar, mas as pessoas estão naquela situação. No Bairro do Zambujal também vi que a situação é quase a mesma realidade. Há pessoas que não têm as mesmas condições. Às vezes o nível de vida é muito baixo. Há muitas desigualdades”, lamentou.

O contacto com a Europa foi, assim, um sobressalto. “Não estava à espera porque a ideia que temos da Europa é um pouco diferente. Quando estamos no terreno encontramos uma realidade que, às vezes, choca. Tenho amigos que têm a ideia de que por eu estar na Europa tenho uma vida boa e eu começo a rir. Digo que se eles estivessem onde eu estou iriam ver que a realidade é muito diferente. Aprendi que a Europa também tem gente pobre, mas não podemos comparar o exemplo de Moçambique com a pobreza que está no Bairro do Zambujal porque são contextos diferentes”, esclareceu o jovem.

Portugal é o culminar de um percurso formativo, e, por isso, é também um momento de balanço. “Agradeço a Deus por me ter acompanhado durante estes anos. Sem Ele eu não chegaria aqui. Estou contente por desafiar a minha vida. Estou a dar toda a minha vida para a missão”, referiu. No próximo verão, Augusto deverá regressar a Moçambique, para junto dos seus “quatro irmãos mais novos, e dois mais velhos”, assim como restante família, que diz estar “feliz” com a sua escolha. Apesar da distância da sua terra natal, o jovem afirma que não se sente “isolado”, uma vez que as novas pessoas com quem se vai cruzando “também são família”.

Texto: Juliana Batista