Carlos Liz - Investigador Colaborador do CECH da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

As sociedades precisam de rituais, de calendários pontuados por celebrações que mantenham presentes grandes acontecimentos, causas significativas, personalidades relevantes para a história coletiva. Assim é maio, um mês muito caro aos leitores da Fátima Missionária, por certo, e, também, um mês que começa sempre pela celebração do Dia do Trabalhador.

Há 135 anos lutava-se por uma transformação das desumanas condições de trabalho. Muitas têm sido as lutas desde então para que mulheres e homens consigam ver reconhecidos os seus direitos, como membros ativos de uma sociedade equilibrada. O estatuto de trabalhador exige uma constante luta por condições objetivas como salários justos, tempos de trabalho, qualidade do ambiente produtivo, segurança e saúde.

As sociedades contemporâneas tornaram-se, entretanto, profundamente complexas e são muitas as interrogações acerca dos caminhos que as coisas estão a tomar em quase todas as dimensões da vida humana. Neste maio de 2021 enfrentamos a pandemia da Covid-19 e com ela vem a revelação crua de um mundo ainda mais injusto e desigual do que imaginávamos.

Presentes em todos os continentes, os Missionários da Consolata conhecem, por dentro, os trabalhadores de campos e fábricas, os milhares de migrantes sobre explorados lembrando condições de há mais de 100 anos, ao mesmo tempo que se cruzam com os novos trabalhadores de sociedades “desenvolvidas” sem direitos mínimos e peças indiferenciadas de grandes sistemas de “inteligência” cibernética.

Celebrar o Dia do Trabalhador nestes tempos passa por uma conversão interior no sentido de tomar consciência do que acontece no mundo à nossa volta, passa por ter mais conhecimento sobre as novas ameaças à dignidade de quem produz cada vez mais riqueza, cada vez menos distribuída. Vêm a propósito estas palavras do beato José Allamano: “Não fiquemos por aí indecisos, como autómatos, sem iniciativa. Também não devemos ir a reboque de ninguém. Busquemos a nossa própria santificação e trabalhemos também pela salvação dos outros”. Estes são os nossos dias, os dias dos trabalhadores.