Joana Araújo dos Santos Médica | Medicina Geral e Familiar Centro de Saúde de São João do Estoril

Dois anos de pandemia da covid-19… Tanto que já passou, tantos que já lá vão… Este tempo teve diferentes fases e foi vivido de forma diferente entre cada especialidade e diferentes profissionais de saúde. Foi um tempo de grande aprendizagem, mas também de grandes perdas. Nos serviços hospitalares morreram doentes, muitos deles jovens, todos os dias. A um ritmo desleal. Nos centros de saúde deixou-se a prevenção de lado e as restantes doenças para se acompanhar telefonicamente as pessoas infetadas não internadas. Em cada casa, as pessoas tentaram compreender a doença e o que lhes era pedido para fazer.

Foram dois anos de avanços e recuos na saúde, na ciência, na política e na vida das pessoas. Os profissionais de saúde estão cansados. Estamos todos cansados. E agora? Só existe um caminho: aquele que segue em frente, e em cada fôlego aproveita para avaliar para poder melhorar no fôlego seguinte.

Importa relembrar que este Serviço Nacional de Saúde de que se ouvem tantas críticas nos telejornais e nas conversas de café é composto por pessoas que deixam a família em casa para se dar aos familiares dos outros. Pessoas! Falamos de médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, técnicos auxiliares de diagnóstico, secretários clínicos, bombeiros, tripulantes de ambulância, empregadas de limpeza, seguranças… Falamos de pessoas com diferentes funções e diferentes responsabilidades. Que se dedicam porque tem de ser. Falamos de pessoas que estudaram pelo menos duas dezenas de anos para exercer
o seu cargo, mas também de pessoas que acabaram por trabalhar em saúde por acaso da necessidade.

Falamos de pessoas que queriam ter tido férias e não tiveram. Pessoas que muitas vezes queriam retirar o equipamento de proteção para comer ou até chorar, mas não podiam.
Falamos de pessoas que ouviram e continuam a ouvir todos os dias injúrias e ofensas pela demora de um serviço, cuja razão lhes é alheia. Pessoas que muitas vezes almoçam muito para lá da hora e que fazem centenas de horas extraordinárias.

A todos eles: Obrigada! Estamos a ver-vos! Gostava de relembrar que todas estas pessoas já faziam muitas destas coisas antes da pandemia, e continuarão a fazê-las quando a mesma terminar. Por isso, não nos esqueçamos nunca disto na ida a um serviço de saúde. O médico queria fazer melhor do que consegue – perdoe-o logo à partida.

1 comment

  1. O Serviço Nacional de Saúde não são apenas os trabalhadores, e neste conjunto teremos que incluir desde o pessoal de limpeza, passando por administrativos, enfermeiros, médicos e ainda outros que colaboram. A estes, todos os portugueses tem a obrigação de estar agradecidos. Eu sou um daqueles que estou muito agradecido. Mas o SNS é mais que isso, tem a montante toda uma estrutura montada, cingimo-nos ao Ministério da Saúde, do qual emanam as directrizes para quase tudo o que se deve fazer ou não, e nesse aspecto os responsáveis políticos ficaram muito aquém das suas obrigações. Se as tivessem cumprido é possível que não tivessem acontecido tantas mortes não covid-19, para além da pesada herança que os portugueses vão sentir nos próximos anos. Quando ouviu, ou ouve, criticar o SNS, estou convicto que as pessoas não se referem aos profissionais, mas aos políticos. Para sermos justos é necessário fazer a destrinça das águas. Parabéns pelo artigo. Obrigado.

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