Durante os 120 anos de vida da família dos Missionários da Consolata, foram quase mil os missionários que o Senhor chamou a si. O primeiro missionário da Consolata a morrer foi Henrique Manzon, falecido no Quénia em 1912 com apenas 25 anos, vítima de uma peritonite. Um dos últimos foi Aventino de Oliveira, falecido em Fátima há apenas dois meses, com 88 anos de idade e 64 de missão.

O que poderá ser dito acerca dos missionários e de todos os fiéis defuntos? São Francisco de Assis rezava e cantava – “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal” – deixando assim um convite a descobrir a face oculta da morte, a fraternidade que ela cria e manifesta. Ela é a nossa querida irmã e os defuntos estão mais perto de nós do que nunca tenham estado.

O beato José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, foi, na sua velhice, duramente provado com a morte do seu mais próximo colaborador – o padre Tiago Camisassa – que ele estimava até ao ponto de propor a Deus uma troca – “Ofereci a minha vida para que perdurasse a sua”. Sofreu e chorou com esta grave perda mas a sua dor era mitigada pela certeza da nova vida em que o padre Tiago tinha entrado. “Temos agora um protetor especial no paraíso”, escrevia ele aos seus missionários. Desabafando com um deles, Allamano dizia que não obstante a dor da separação se sentia tão bem que até era uma vergonha. Tinha receio de ser mal interpretado porque se sentia bem por ter mais um amigo no céu. É necessária uma grande fé para alguém se sentir bem ao pensar que um familiar ou um amigo cruzou o limiar da eternidade.

Esse encanto, esse sentir-se bem com o pensamento da morte era em José Allamano acompanhado por uma vida de canseiras. Sendo um homem de saúde frágil podia muito bem ver na sua pouca saúde uma razão para viver tranquilamente fazendo algum bem mas sem grandes preocupações. Ele próprio, com um bocadinho de ironia, disse um dia às irmãs missionárias: “Também eu poderia viver os meus dias tranquilo. Rezava o Divino Ofício durante a manhã e depois ia almoçar, depois lia o jornal, e depois ia dormir a minha sesta, e depois… e depois… acabava por morrer como um tolo! É esta a vida que vale a pena viver? Recordai, irmãs, que somos chamados a querer bem a Nosso Senhor. Devemos fazer o bem, todo o bem que nos seja possível”. Foi assim que os seus filhos e filhas já falecidos procuraram viver. O Senhor os tenha em glória.

Texto: Tobias Oliveira

Ilustração: David Oliveira