Indiferentes aos sofrimentos do povo, os líderes políticos do Quénia continuam a sua luta partidária, determinados a impor cada um a sua verdade
Indiferentes aos sofrimentos do povo, os líderes políticos do Quénia continuam a sua luta partidária, determinados a impor cada um a sua verdadeDepois de um dia de grande tensão o sol nasceu hoje, 4 de Janeiro, sobre um Quénia incerto acerca do amanhã. Ontem foi o dia em que todos esperavam um início de entendimento entre o presidente Mwai Kibaki e o líder da oposição Raila Odinga. Mas esse entendimento não apareceu.
O arcebispo Desmond Tutu veio de propósito da África do Sul para tentar um início de mediação. O mesmo estão tentando as Nações Unidas e a Organização da Unidade africana, mas sem resultados visíveis. Entretanto a comida começa a escassear e o mesmo se dá com os combustíveis.
O país está parado desde sábado 22 de Dezembro e este estado de coisas depressa vai degenerar em ataques e pilhagens. as escolas deviam abrir hoje. Já adiaram a abertura para daqui a uma semana e o mesmo está a acontecer com a indústria e com o comércio. Se hoje o país não puser mãos à obra, não sei o que irá acontecer.
Para já o governo mantém-se impávido na sua posição de detentor da legalidade, enquanto a oposição promete comícios diários até ao momento em que o presidente se demita e sejam anunciadas novas eleições. ainda é possível evitar o pior, mas os sinais não são encorajadores.
Como missionários, tanto eu como os meus confrades, sentimo-nos como o jovem David diante de um Golias tremendo e temível. De que nos serve citar a leitura da Missa de hoje que nos diz que quem não ama o seu próximo não é filho de Deus? Se mais de metade da população do Quénia é crente em Jesus Cristo, devemos concluir que há muitos cristãos e também católicos entre os partidários de ambos os campos.como é que se lhes faz compreender que nada justifica levar o país ao precipício ou criar condições para que reine a morte onde deveria reinar a vida?
Bento XVI na encíclica Salvos pela Esperança responde que é necessário fazermos absolutamente tudo o que nos é possível e ao mesmo tempo colocarmos tudo nas mãos do divino artífice. Não sei se estamos a fazer tudo o que nos é humanamente possível, mas não estamos parados. Os bispos falaram com autoridade e clareza. Vamos repetindo a mensagem de reconciliação que eles nos propõem. Que o grande Príncipe da Paz nesta quadra de Natal cale a voz e as armas dos Herodes deste mundo que tramam uma vez mais a chacina dos inocentes.